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sexta-feira, 16 de julho de 2021

Financiamento insuficiente aprofunda a crise humanitária no Afeganistão

A crise humanitária no Afeganistão é crescente, em meio a uma seca contínua e ao aumento das operações militares em consequência da retirada das tropas dos EUA e da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte). A fim de combater o problema, a ONU (Organização das Nações Unidas) tem cobrado uma maior ajuda financeira das nações desenvolvidas.

Ramiz Alakbarov, Coordenador Residente e Humanitário da ONU para o Afeganistão, diz que o apelo de US$ 1,3 bilhão, lançado no início deste ano, teve menos de 40% de seu valor financiado até agora. Os US$ 450 milhões recebidos, metade dos quais vieram dos Estados Unidos, estão muito aquém do necessário.

Cerca de 18 milhões de afegãos, ou metade da população, precisam de ajuda. Um terço do país está desnutrido, enquanto metade de todas as crianças menores de cinco anos sofre de desnutrição aguda.

“Nosso plano é prestar assistência a pelo menos 15,7 milhões de pessoas e, no momento, isso não será possível sem essas contribuições adicionais”, disse Alakbarov, falando por videoconferência a jornalistas em Nova York.

Deslocadas em campo de refugiados em Mazar-e-Sharif, ao norte do Afeganistão, em abril de 2020 (Foto: Unicef/Omid Fazel)

Refugiados deportados, fronteiras fechadas

Os acontecimentos ocorrem à medida que o prazo para as tropas estrangeiras se retirarem totalmente do país se aproxima. Os EUA planejam concluir simbolicamente a evacuação em 11 de setembro, mas a verdade é que o país praticamente não tem mais presença militar no Afeganistão.

A seca, a segunda em três anos, e a resposta militar em curso, após uma “ofensiva de primavera” do Taleban, levaram cerca de 270 mil pessoas a fugir das áreas rurais para os centros urbanos.

Na cidade de Kunduz, no norte do país, cerca de 35 mil deslocados estão sendo alojados em escolas e prédios públicos e precisam de alimento, água e saneamento. Os talibãs fundamentalistas, que há anos lutam contra o governo central reconhecido internacionalmente, assumiram o controle de todos os distritos ao redor da cidade.

Militares dos EUA em Bagram, maio de 2002: base foi esvaziada em julho de 2021 (Foto: The U.S. National Archives)

Enquanto isso, países vizinhos, como o Irã, deportaram refugiados afegãos de seus territórios. Os agentes humanitários também testemunham movimentos populacionais “muito intensos” em áreas próximas às fronteiras com o Irã e o Paquistão, que agora estão praticamente fechadas.

Os fechamentos ainda não afetaram o trabalho de ajuda, pois os estoques são suficientes para durar até o final de agosto.

Direitos Humanos 

A Missão da ONU no Afeganistão, Unama, tem recebido informações constantes de graves abusos aos direitos humanos nas comunidades mais afetadas pela ofensiva militar em todo o país. Os relatos dão conta de maus-tratos, perseguição, discriminação e assassinatos. 

Embora os agentes humanitários continuem a operar na maioria dos 405 distritos do Afeganistão, as dificuldades de acesso têm aumentado devido à violência. Mais de mil interferências, ameaças e impedimentos de acesso foram reportados até agora neste ano, o que é igual ao total de 2020.

Por ocasião do feriado muçulmano do Eid al-Adha, a Festa do Sacrifício, na próxima segunda-feira (19), a ONU pede um “cessar-fogo que dê trégua no conflito e contribua para negociações de paz sustentadas e significativas”. 

Preocupação com mulheres e meninas

A situação de mulheres e meninas é particularmente preocupante. O chefe de uma família em Kandahar, no sul do país, conta que, nos últimos três meses, quatro mulheres da família dele deram à luz. Três morreram.

Vinte e cinco trabalhadores humanitários foram mortos desde o início do ano e 63 ficaram feridos, um aumento de 30% em relação a 2020. As vítimas incluem mulheres trabalhadoras de saúde e que atuam na remoção de minas terrestres.

Conteúdo adaptado do material publicado originalmente pela ONU News

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