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terça-feira, 24 de janeiro de 2023

Comunidade agrícola em Cabo Verde investe em resiliência climática após anos de seca

Uma iniciativa da ONU (Organização das Nações Unidas) e de parceiros internacionais na Ilha de Santo Antão, em Cabo Verde, está beneficiando o trabalho de pequenos produtores rurais após uma seca de cinco anos.

O projeto “Fomento de Práticas Agrícolas Sustentáveis” no município de Paúl conta com o financiamento de Luxemburgo, entre outros doadores, e tem o apoio da agência da ONU para Alimentação e Agricultura (FAO) e do Programa para o Desenvolvimento (PNUD).

A meta é transformar o setor agrícola e fomentar a criação de empregos para quase cem jovens e mulheres e 90 agricultores. Ao todo, são beneficiados 285 pequenos produtores de feijão, cassava, banana, café, papaia, couve e outros alimentos.

Localizada no extremo oeste de Cabo Verde, a Ilha de Santo Antão enfrenta os sinais das mudanças climáticas com quedas do fluxo de água para a agricultura e a redução no número de rebanhos. António Guterres, secretário-geral da ONU, visitou Cabo Verde para participar da Cúpula do Oceano.

O Vale Paúl, com pouco mais de sete mil moradores, abriga o que a especialista da FAO, Katya Neves, descreve como um jardim experimental com vários tipos de cultivos.

António Guterres em sua passagem por Cabo Verde (Foto: UN Photo/Mark Garten)
Importância de diversificar as culturas

O chefe da ONU conversou com alguns agricultores no projeto que incentiva a participação de mulheres. Uma delas é Angela Silva, filha e neta de lavradores, que diz sentir mudanças nas águas de Cabo Verde e no trato com a terra em que ela planta bananas, cana de açúcar e hortaliças.

“O meu sonho é transformar aquilo numa floresta de alimentos para os meus filhos e também para os meus netos. Para além de estarmos numa ilha agrícola, mas nossa alimentação é pobre porque as pessoas se dedicam mais à cana sacarina e esquecem de por outras culturas. E, por vezes, a pouca quantidade que produzimos aqui é vendida, por exemplo, no Porto Novo. Às vezes, procuramos por um produto aqui, mas não encontramos. Encontramos mais no Porto Novo”, disse ela

Angela Silva conta que fez a formação de fertilização de terrenos. As parcelas da plantação que ela gerencia ficam numa zona muito alta. E, segundo a agricultora, é difícil levar o adubo e outros elementos para preparar o terreno. Porém, ela diz que os agricultores em Santo Antão já percebem os sinais da mudança climática.

“Há muita seca, há perda de sementes, às vezes cultivamos, mas aquilo fica só no desperdício. Há muita dificuldade no abastecimento de água. O que temos aqui é mais rega tradicional porque se desperdiça muita água. Agora que as pessoas estão a investir também na gota a gota. É o meu sonho também. Mas faltam os recursos porque eu sou professora. Tenho filhos. Ainda não tenho possibilidade de colocar aquilo. Mas há muita falta d’água. Principalmente nos meses de maio e agosto, se não chover, fica difícil”, afirmou.

Detritos plásticos na corrente oceânica

Um dos cultivos no projeto em Paúl é uma espécie de cassava ou aipim resistente à seca. Juntos, os agricultores criaram uma associação para fornecer alimentos para mais localidades à medida que tentam conter os efeitos adversos às plantações.

Dados divulgados pelas Nações Unidas revelam que, pela sua localização geográfica, as ilhas cabo-verdianas sofrem com um fluxo de detritos plásticos que são levados pela corrente oceânica.

Após sua reunião com o primeiro-ministro de Cabo Verde, Ulisses Correia e Silva, António Guterres disse que Cabo Verde está na linha de frente dos efeitos da mudança climática e citou a seca enfrentada pelo país.

Nesta segunda-feira, António Guterres participa da cerimônia de abertura da Ocean Race, o desafio global de regatas, em Mindelo, que conta com a presença do primeiro-ministro. O chefe das Nações Unidas deve se reunir depois com o presidente de Cabo Verde, José Maria Neves antes de deixar o país.

Conteúdo adaptado do material publicado originalmente pela ONU News

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