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segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

Al-Shabaab realiza ousado ataque à prefeitura de Mogadíscio e deixa cinco mortos

O Al-Shabaab, grupo extremista ligado à Al-Qaeda, realizou no domingo (22) uma de suas mais ousadas ações, ao atacar as instalações da prefeitura de Mogadíscio, capital da Somália. Ao menos cinco civis foram mortos, segundo informações da rede Voice of America (VOA).

Seis insurgentes teriam usado uniformes das forças especiais somalis para acessar o complexo da prefeitura. Entre eles estava um homem-bomba, que detonou o explosivo na entrada das instalações e deu início a uma intensa troca de tiros na parte interna do edifício.

“Ouvimos uma grande explosão, foi uma explosão forte que chocou as pessoas”, disse o jornalista Abdiaziz Ahmed Barrow, que testemunhou o ocorrido. “Vi pessoas fugindo, e as ambulâncias chegaram ao local. As forças de segurança chegaram e abriram fogo”.

Enquanto as autoridades atuavam para evacuar a prefeitura, os invasores assumiram o controle do local, dando início a um cerco que durou cerca de seis horas. As instalações são a sede do governo da região de Banadir, atualmente a cargo de Yusuf Hussein Jimale, que nos últimos três anos tem ocupado também o cargo de prefeito de Mogadíscio. Ele estava fora da cidade no momento do ocorrido.

Além dos cinco civis cujas mortes foram confirmadas, um número incerto de pessoas se feriu durante a ação, algumas delas com gravidade. Os seis invasores morreram, e até agora não ficou claro se o alvo do ataque era o prefeito.

Os extremistas assumiram a autoria através do aplicativo de mensagens Telegram, mas não deixaram claras suas intenções. Segundo eles, 34 pessoas foram mortas, entre elas funcionários da administração regional. Essas informações, refutadas pelo governo, carecem de verificação independente.

Soldado da União Africana patrulha Mogadíscio, capital da Somália, em 2012 (Foto: Amisom/Flickr)
Por que isso importa?

O Al-Shabaab chegou a controlar Mogadíscio até 2011, quando foi expulso de lá pelas forças da União Africana (UA). Atualmente, controla territórios nas áreas rurais da Somália e luta para derrubar o governo nacional, tendo inclusive se expandido para a vizinha Etiópia.

O grupo concentra seus ataques no sul e no centro da Somália. As atividades envolvem ataques a órgãos e oficiais do governo e a entidades de ajuda humanitária, além de extorsão contra a população local e proteção de terroristas internacionais que se escondem no país.

Um levantamento feito pela ONU (Organização das Nações Unidas) e divulgado em dezembro de 2022 aponta que 613 civis morreram no ano passado na Somália em ações terroristas. A maioria dessas pessoas, 315, foi vítima de dispositivos explosivos improvidas (IEDs, na sigla em inglês).

Os números, apresentados pelo Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), apontam ainda casos de vítimas civis atingidas pelas forças do governo, por milícias armadas aliadas às forças armadas somalis e por outros “atores não identificados”. As mais de 600 mortes representam um aumento de um terço em relação a 2021, maior número registrado no país desde 2017.

Devido ao crescimento do Al-Shabaab, Mohamud iniciou, em agosto do ano passado, uma grande ofensiva contra os insurgentes. Na ocasião, ele comparou a facção a “uma cobra mortal” e disse que “não há solução a não ser matá-la, antes que ela mate você”.

Ao prometer confrontar os insurgentes, ele inclusive alertou a população para que não seja pega no fogo cruzado. “O Al-Shabaab será confrontado usando todos os métodos que a guerra permitir. Eles serão bombardeados, invadidos e submetidos a ataques aéreos. Então, fique longe deles”, disse Mohamud.

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista. E, mais recentemente, em outubro de 2022, um associado ao EI, com nacionalidade brasileira e negócios no país, foi sancionado pelos EUA.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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