A aliança entre os governos da França e de Burkina Faso no combate ao extremismo islâmico no país africano está muito perto de um abrupto encerramento. A Agência de Informação de Burkina (AIB, na sigla em francês), órgão oficial do governo central, informou no domingo (22) que as tropas francesas receberam ordens para deixar o território burquinense no prazo de um mês. As informações foram reproduzidas pela agência Al Jazeera.
De acordo com a AIB, desde a última quarta-feira (18) o acordo firmado entre Paris e Uagadugu no setor de segurança está suspenso. Uma pessoa cuja identidade não foi revelada disse que a ruptura limita-se ao combate ao extremismo islâmico, com as demais relações entre os países preservadas.
Essa informação, porém, parece incompatível com alguns dos mais recentes desdobramentos, vez que o embaixador francês Luc Hallade foi expulso do país africano no início de janeiro.
Sobre o fim da parceria no setor de segurança, o presidente francês Emmanuel Macron afirmou que a mensagem que recebeu da junta militar que governa Burkina Faso é “confusa”, de acordo com a agência Associated Press (AP).
Macron afirmou que a França só se pronunciará oficialmente após receber novas informações do capitão Ibrahim Traoré, atual chefe de governo burquinense. “Acho que devemos ter muito cuidado”, declarou o presidente
Moscou ganha força
As medidas adotadas por Traoré evidenciam o aumento da influência da Rússia em Burkina Faso, com a tendência de que a organização paramilitar privada Wagner Group assuma o vácuo deixado pelas tropas da França no combate ao terrorismo. Movimentação idêntica ocorreu no vizinho Mali, de onde os militares franceses foram expulsos para dar lugar aos mercenários russos.
O direcionamento de Uagadugu para Moscou pode ser notado desde o golpe de Estado que colocou Traoré no poder. Ele derrubou o líder anterior, o tenente-coronel Paul-Henri Sandaogo Damiba, justamente sob o argumento de que ele não vinha tendo sucesso na luta contra grupos extremistas islâmicos que desde 2015 marcam presença na nação.
Damiba chegou a cogitar a possibilidade de contratar o Wagner Group para as operações de contraterrorismo. Porém, mudou de ideia e incomodou o alto escalão das forças armadas burquinenses, abrindo espaço para Traoré assumir.
Constantin Gouvy, pesquisador de Burkina Faso no Instituto Holandês de Relações Internacionais, confirmou que a escolha de parceiros vinha sendo um dos principais pontos de discórdia entre a junta militar que governava o país, o exército e a população.
“Damiba estava se inclinando para a França, mas podemos ver o MPSR (a junta) explorando mais ativamente alternativas a partir de agora, com a Turquia ou a Rússia, por exemplo”, afirmou Gouvy.
E a tendência é a de que o cenário se espalhe ainda mais pela África, com os mercenários dando suporte às forças armadas na luta contra o extremismo em troca de remuneração baseada nos recursos naturais locais.
O governo de Gana já havia alertado que uma mina teria sido usada como pagamento aos mercenários em Burkina Faso. No Mali, fontes sustentam que os serviços da organização russa custem US$ 10,8 milhões por mês, dinheiro que viria da extração de minerais.
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