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segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

Barrados pela imigração, russos vivem há dois meses em aeroporto da Coreia do Sul

As autoridades de imigração da Coreia do Sul impediram a entrada no país de cinco cidadãos russos que desembarcaram no Aeroporto Internacional de Incheon há dois meses. Os indivíduos fugiram da Rússia para evitar o recrutamento para servir às forças armadas na guerra na Ucrânia, segundo informações do jornal The Korea Times.

Desde que tiveram seus pedidos de asilo negados, em novembro de 2022, os cinco russos estão em um limbo burocrático, vez que ainda não foram enviados de volta a Moscou. Assim, estão vivendo no setor de trânsito do aeroporto, o maior da Coreia do Sul e um dos mais movimentados do mundo. Eles recebem diariamente três refeições das autoridades locais.

Aeroporto Internacional de Incheon, o maior da Coreia do Sul (Foto: David McKelvey/Flickr)

Seul rejeitou o pedido do quinteto porque, pelas leis sul-coreanas, a fuga do recrutamento militar não dá aos estrangeiros o direito de obter asilo no país. Os cinco indivíduos teriam recebido os documentos de convocação para servir às forças armadas pouco antes da fuga.

Segundo Vladimir Maraktaev, que é um dos cinco barrados, a Coreia do Sul foi o destino escolhido porque “é muito desenvolvida em termos de democracia e direitos civis”. A fuga do território russo ocorreu em setembro, com uma passagem pela fronteira com a Mongólia e algumas semanas nas Filipinas antes do embarque rumo a Seul.

“Eu seria voluntário (para lutar) se alguém nos atacasse e colocasse meus entes queridos em perigo”, disse ele, que completou o serviço militar obrigatório em 2019. “Mas é uma história totalmente diferente quando meu próprio país é o agressor. Nunca pegarei em armas para matar pessoas inocentes na Ucrânia”.

Andrei, outro russo que vive no setor de trânsito do aeroporto à espera de uma solução para o caso, diz que já foi agredido pela polícia russa durante um interrogatório. Por isso, ficou marcado e diz que seria sacrificado caso servisse às forças armadas na guerra.

“Eu sabia que seria jogado na linha de frente”, afirmou o homem, que diz ter deixado a mulher e o filho na Rússia.  “Por enquanto, não posso voltar para eles. Espero que a Coreia me ajude a ficar aqui pelo menos até o fim da guerra”.

Lee Jong-chan, advogado que representa os homens, diz que o caso deles não se limita a fugir do recrutamento, por isso caberia o asilo. “Esses homens enfrentam perseguição em seu país de origem com base em sua opinião política percebida, que os qualifica para o status de asilo de acordo com os padrões internacionais. O ministério deve estar bem ciente disso”, afirmou.

Após a negativa inicial das autoridades sul-coreanas, os russos ingressaram com um recurso e aguardam uma nova decisão, que deve ser julgada até o final do mês de janeiro. A Coreia do Sul tem uma taxa de aceitação de refugiados de apenas 1,3%, a segunda menor entre os países do G-20.

Caso o recurso seja acolhido, eles tendem a receber um visto temporário para viver na Coreia do Sul enquanto aguardam uma solução definitiva para o caso. Se não obtiverem sucesso, serão deportados para o país de origem.

Através de sua representação em Seul, o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) defende o direito dos homens a asilo. “Os indivíduos que buscam proteção internacional nas fronteiras, todas as pessoas que buscam asilo na fronteira, devem poder exercer efetivamente o direito de buscar e desfrutar de asilo e estão protegidos contra o retorno forçado”, disse a entidade.

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