EUA e China definitivamente travam uma “corrida espacial”, sendo a conquista da Lua o prêmio destinado ao vencedor. O alerta foi feito nesta semana pelo ex-astronauta Bill Nelson, atual administrador da Nasa (Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço). Segundo ele, a vitória nessa disputa permitiria que Beijing assumisse o controle das regiões lunares mais ricas em recursos, com a possibilidade inclusive de os chineses manterem os norte-americanos fora do satélite natural da Terra. As informações são do site Politico.
“É um fato: estamos em uma corrida espacial”, disse o ex-senador pela Flórida e ex-astronauta. “E é verdade que é melhor ficarmos atentos para que eles não cheguem a um lugar na Lua sob o disfarce de pesquisa científica. Não é impossível que eles digam: ‘Fiquem longe, estamos aqui, este é o nosso território’”.
Na tentativa de derrotar os maiores rivais, o governo norte-americano lançou recentemente a cápsula espacial não tripulada Orion, cuja missão foi considerada um sucesso. A iniciativa é parte de um projeto mais ambicioso, de retornar à Lua até 2025 e então começar a estabelecer uma presença mais efetiva do homem na superfície lunar.
Nos últimos anos, a China aumentou consideravelmente o investimento no setor aeroespacial e tornou-se concorrente real dos EUA. Até 2007, o país não havia feito mais de dez lançamentos em um ano, mas intensificou as atividades desde então e, somente até o final de 2021, havia feito 152, maior marca global. Desde 2018, somente em 2020 os EUA venceram a competição anual, com 44 lançamentos contra 39.
A disputa entre os dois os países tem gerado preocupações de que o espaço esteja superlotado, inclusive com um incidente curioso em dezembro de 2021. Após evitar duas colisões com sua estação espacial, devido a aproximações classificadas como “irresponsáveis”, a China solicitou à Starlink, uma divisão da empresa SpaceX, do magnata Elon Musk, que evite a aproximação de seus satélites, sob risco de uma tragédia.
Os satélites de Musk se aproximaram duas vezes da Tiangong, em julho e outubro, o que obrigou a estação chinesa a fazer manobras de evasão. “Os Estados Unidos devem tomar medidas imediatas para evitar a recorrência de tais incidentes e adotar uma atitude responsável para salvaguardar as vidas dos astronautas em órbita e a operação segura e estável das instalações espaciais”, disse na ocasião o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Zhao Lijian.
Como os EUA, o maior objetivo chinês neste primeiro momento é chegar à Lua ainda nesta década com seus “taikonautas”, expressão em inglês comumente usada por Beijing para seus viajantes espaciais. Trata-se de um grande desafio para Washington, que já preciso adiar em um ano seus planos de desembarque lunar, cujo prazo anterior era 2024.
“É inteiramente possível que eles possam nos alcançar e nos ultrapassar, com certeza”, disse em dezembro de 2022 a tenente-general da Força Espacial Nina Armagno. “O progresso que eles fizeram foi impressionante. Incrivelmente rápido”.
A concorrência, claro, não é pacífica. Terry Virts, coronel aposentado da força aérea norte-americana e ex-comandante da Estação Espacial Internacional, diz ver riscos da presença chinesa na Lua. “Se eles instalarem uma infraestrutura lá, eles podem potencialmente negar as comunicações, por exemplo. Tê-los lá não torna as coisas mais fáceis. Há uma preocupação real com a intromissão chinesa”.
Beijing refuta as acusações. “Algumas autoridades dos EUA falaram de forma irresponsável para deturpar os esforços espaciais normais e legítimos da China”, disse Liu Pengyu, porta-voz da Embaixada da China em Washington. “O espaço sideral não é um campo de luta. A exploração e usos pacíficos do espaço sideral é um esforço comum da humanidade e deve beneficiar a todos”.
De acordo com Liu, a China “defende o uso pacífico do espaço sideral, se opõe ao armamento e à corrida armamentista no espaço sideral”. No caso específico da Lua, o objetivo, nas palavras dele, é “construir uma comunidade com um futuro compartilhado para a humanidade no domínio espacial”.
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