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quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

Mais jornalistas morreram na América Latina e no Caribe que na Ucrânia em 2022, diz ONG

A América Latina e o Caribe são os lugares mais mortais para os jornalistas no mundo. Nem durante a guerra da Ucrânia, que está a um mês de completar um ano, morreram mais profissionais de imprensa do que nessas regiões em 2022, disse a ONG Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), em estudo publicado na terça-feira (24). As informações são do jornal britânico Guardian.

No total, foram 30 vítimas nos Estados latino-americanos e caribenhos, número que representa quase a metade dos 67 profissionais de mídia mortos em todo o mundo. Entre os que perderam a vida está o colaborador do Guardian Dom Phillips, assassinado no Brasil, no Vale do Javari, no Amazonas. O britânico viajava em busca de material para um livro acompanhado do indigenista Bruno Pereira, também vítima de homicídio. 

Jornalista registra eventos na Praça da Independência, Kiev, 2014 (Foto: Wikimedia Commons)

Mais da metade dos assassinatos de jornalistas e trabalhadores do setor no planeta ocorreram em apenas três países: Ucrânia (15), México (13) e Haiti (7) – estes dois últimos locais de crimes brutais e com a maioria dos autores não responsabilizada. Foi a maior estatística já registrada pelo CPJ nesses locais, segundo o relatório. Já o total global, que chegou a 67 mortes, foi o maior número verificado desde 2018, representando um aumento de quase 50% em relação a 2021.

“É um número incrível de pessoas, o maior que já registramos na região”, disse o diretor de programas do CPJ Carlos Martínez de la Serna. “E não tenho nenhuma razão para pensar que neste ano será diferente, a menos que vejamos abordagens radicalmente diferentes [dos governos], como a criação de mecanismos eficazes de proteção [para jornalistas]”.

Segundo a presidente do CPJ, Jodie Ginsberg, cobrir política, crime e corrupção “pode ser igual ou mais mortal do que cobrir uma guerra em grande escala”.

Perigo no Brasil

No Brasil, além do meio ambiente, outra pauta perigosa para se trabalhar é a política. Após os atos terroristas cometidos por militantes de extrema-direita e apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro em Brasília em 8 de janeiro, o recém-empossado governo Lula prometeu criar um observatório especial para monitorar os ataques à imprensa.

A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) disse que pelo menos 40 jornalistas sofreram ataques enquanto cobriam a invasão à Praça dos Três Poderes, incluindo um repórter do jornal mineiro O Tempo, que chegou a ser mantido em cárcere por cerca de 30 minutos por apoiadores de Bolsonaro, sendo nesse período agredido e ameaçado com uma arma de fogo dentro da sede do Congresso, conforme relatou.

“Encostaram uma arma na minha cintura, dizendo que eu ia morrer. Outro encostou em meu ouvido e disse que tinha outra arma nas minhas costas. Senti algo, como um pequeno cano. E não paravam de me xingar”, relatou a vítima. “Comecei a implorar pela minha vida. Estive em alguns dos países mais perigosos para jornalistas no mundo, como a Coreia do Norte. Nunca senti tanto medo, tão inseguro, tão vulnerável”.

Outros jornalistas que morreram em serviço trabalhavam em coberturas turbulentas, como na apuração de casos de crime e corrupção na Colômbia, agitação política no Chade, Israel e Palestina, além de Mianmar, onde uma junta militar assumiu o poder após um golpe de Estado em 2021 e impõe um regime brutal que matou mais de 2,8 mil pessoas.

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