A Suécia recusou mais quatro pedidos de extradição feitos pela Turquia como condição para aceitar o ingresso do país escandinavo na Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte). Os indivíduos em questão seriam seguidores do clérigo islâmico Fethullah Gulen, que vive nos EUA e é acusado por Ancara de ligação com um golpe para derrubar o presidente turco Recep Tayyip Erdogan em 2016. As informações são da agencia Reuters.
Os pedidos, rejeitados pela Suprema Corte da Suécia, foram feitos entre 2019 e 2022, antes do início das negociações para o ingresso sueco na Otan. Embora antiga, somente agora a negativa do tribunal tornou-se pública, e o governo sueco diz que não tem como interferi para mudar o veredito.
Tanto a Suécia quanto a Finlândia têm planos de se juntar à Otan, anunciados em maio de 2022. Os dois países abandonaram suas políticas de longa data de não alinhamento militar e solicitaram a adesão após as tropas de Vladimir Putin invadirem a Ucrânia em fevereiro.
Enquanto 28 dos 30 Estados da aliança ratificaram as adesões, a Turquia segue frustrando os planos dos nórdicos devido às alegações de que ambos dão abrigo a “terroristas”, referindo-se a integrantes das milícias PKK e YPG (Unidade de Proteção do Povo), grupos considerados extremistas inclusive pelos EUA e a União Europeia (UE). Embora não tenha dado o aval, a Hungria já sinalizou que o fará.
Impasse
Desde dezembro a Suécia dá indícios de que não atenderá a todas as demandas turcas. Na ocasião, a Suprema Corte vetou a extradição do jornalista Bulent Kenes, ex-editor-chefe do jornal Zaman e também acusado de envolvimento na suposta tentativa de golpe contra Erdogan.
Segundo a Justiça sueca, existem “vários obstáculos” legais que impedem a extradição. Sobretudo a natureza política do caso e a condição de refugiado do jornalista. Além disso, algumas das acusações impostas contra ele na Turquia não são consideradas crime na Suécia.
A negativa foi reforçada pelo Ministério das Relações Exteriores da Suécia. “Se a Suprema Corte declarar que há obstáculos à extradição em um caso individual, o governo deve negar o pedido de extradição”, disse a pasta em comunicado.
Outra exigência sendo debatida pelas duas nações é a de que sejam extraditados 33 indivíduos curdos acusados de serem combatentes de grupos considerados extremistas.
Um pouco antes da solução do caso de Kenes, Ancara havia conquistado uma vitória na queda de braços com Estocolmo ao conseguir a extradição de Mahmut Tat, que em 2015 pediu asilo na Suécia após ter sido condenado por suposta ligação com a milícia curda PKK (Partido dos Trabalhadores Curdos).
O PKK, que luta pela autonomia curda na Turquia, é classificado por Erdogan como grupo terrorista e é um dos principais focos da política de segurança nacional turca. Ancara alega que, ao longo de 35 anos, a “campanha de terror” da milícia já matou mais de 40 mil civis e militares.
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