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sábado, 7 de janeiro de 2023

Falar com sotaque sul-coreano pode render até trabalho forçado na Coreia do Norte

A repressão na Coreia do Norte invariavelmente rende relatos que expõem o nível de paranoia do governo com o patriotismo e a rejeição a tudo que vem do Ocidente. Desde a exigência para que os cidadãos, mesmo os mais pobres, comprem a bandeira nacional até a pena de morte imposta a quem assiste a vídeos de K-pop, gênero musical da Coreia do Sul, muitas situações evidenciam os esforços de Pyongyang para que os norte-coreanos não tenham contato com a prosperidade do vizinho. Segundo a rede Radio Free Asia (RFA), recentemente o regime expulsou da universidade e enviou para trabalhar nas minas de carvão um grupo de jovens que falaram expressões tipicamente sul-coreanas.

Quatro estudantes universitários foram flagrados pelo governo norte-coreano conversando em seus celulares com sotaque do vizinho, mais suave e com expressões carinhosas que não são usadas no Norte. O modo de falar dos jovens esconde outro crime, vez que eles provavelmente aprenderam vendo filmes ou ouvindo músicas proibidas produzidas na Coreia do Sul.

Rua de Pyongyang, capital da Coreia do Norte (Foto: Unicef/Jeremy Horner)

Para Pyongyang, o comportamento é subversivo e contrarrevolucionário e vem sendo punido com base em uma lei de dezembro de 2020, que prevê até dois anos de trabalhos forçados para quem fala, canta ou escreve como os sul-coreanos. Assistir a vídeos produzidos na nação vizinha rende até 15 anos de prisão, e os responsáveis pela distribuição desse tipo de material podem ser condenados à morte.

Em dezembro de 2021, o grupo de direitos humanos Transitional Justice Working Group relatou que ao menos sete pessoas foram executadas em público na Coreia do Norte na última década por distribuírem ou assistirem a vídeos de K-pop, classificado pelo autoritário líder Kim Jong-un como um “câncer vicioso”.

Jong-un tem atacado impiedosamente o entretenimento sul-coreano, incluindo, além das músicas, filmes e seriados de TV. Eentre eles o sucesso global ‘Round 6’, que chega a abordar o drama dos desertores. Segundo o líder do Norte, as produções do Sul “corrompem as mentes dos norte-coreanos”.

Mesma língua, vocabulários diferentes

O incidente com os jovens flagrados usando expressões do Sul ocorreu no início de dezembro de 2022 em uma estação ferroviária. Um deles usou a palavra jagiya, uma forma carinhosa de se referir a outra pessoa, algo como “querido” ou “querida”. Os acusados foram expulsos da universidade e condenados a trabalhar em uma mina de carvão perto da fronteira com a China.

O caso chegou ao Partido dos Trabalhadores da Coreia, que resolveu fortalecer a fiscalização sobretudo na universidade rural onde ocorreu o episódio, localizada em Chongjin, a terceira maior cidade do país. Naquela região, a Liga da Juventude Patriótica Socialista recebeu ordens para orientar os jovens sobre a proibição, educando-os quanto à maneira correta de falar o coreano.

“As autoridades instruíram a Liga da Juventude Patriótica Socialista a implementar completamente um projeto de educação juvenil para erradicar o comportamento antissocialista nesta ocasião”, disse uma fonte que não teve a identidade revelada por questões de segurança.

Além dos próprios infratores, a punição pelo uso do vocabulário e do sotaque da Coreia do Sul pode recair também sobre os educadores. Eles correm o risco de cumprir a pena de trabalhos forçados caso sejam considerados culpados por não conseguir erradicar o comportamento subversivo entre os jovens.

Embora compartilhem o idioma, sul-coreanos e norte-coreanos adotam expressões bem diferentes no vocabulário e têm sotaques característicos, fáceis de identificar por quem conhece o idioma.

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