A repressão na Coreia do Norte invariavelmente rende relatos que expõem o nível de paranoia do governo com o patriotismo e a rejeição a tudo que vem do Ocidente. Desde a exigência para que os cidadãos, mesmo os mais pobres, comprem a bandeira nacional até a pena de morte imposta a quem assiste a vídeos de K-pop, gênero musical da Coreia do Sul, muitas situações evidenciam os esforços de Pyongyang para que os norte-coreanos não tenham contato com a prosperidade do vizinho. Segundo a rede Radio Free Asia (RFA), recentemente o regime expulsou da universidade e enviou para trabalhar nas minas de carvão um grupo de jovens que falaram expressões tipicamente sul-coreanas.
Quatro estudantes universitários foram flagrados pelo governo norte-coreano conversando em seus celulares com sotaque do vizinho, mais suave e com expressões carinhosas que não são usadas no Norte. O modo de falar dos jovens esconde outro crime, vez que eles provavelmente aprenderam vendo filmes ou ouvindo músicas proibidas produzidas na Coreia do Sul.
Para Pyongyang, o comportamento é subversivo e contrarrevolucionário e vem sendo punido com base em uma lei de dezembro de 2020, que prevê até dois anos de trabalhos forçados para quem fala, canta ou escreve como os sul-coreanos. Assistir a vídeos produzidos na nação vizinha rende até 15 anos de prisão, e os responsáveis pela distribuição desse tipo de material podem ser condenados à morte.
Em dezembro de 2021, o grupo de direitos humanos Transitional Justice Working Group relatou que ao menos sete pessoas foram executadas em público na Coreia do Norte na última década por distribuírem ou assistirem a vídeos de K-pop, classificado pelo autoritário líder Kim Jong-un como um “câncer vicioso”.
Jong-un tem atacado impiedosamente o entretenimento sul-coreano, incluindo, além das músicas, filmes e seriados de TV. Eentre eles o sucesso global ‘Round 6’, que chega a abordar o drama dos desertores. Segundo o líder do Norte, as produções do Sul “corrompem as mentes dos norte-coreanos”.
Mesma língua, vocabulários diferentes
O incidente com os jovens flagrados usando expressões do Sul ocorreu no início de dezembro de 2022 em uma estação ferroviária. Um deles usou a palavra jagiya, uma forma carinhosa de se referir a outra pessoa, algo como “querido” ou “querida”. Os acusados foram expulsos da universidade e condenados a trabalhar em uma mina de carvão perto da fronteira com a China.
O caso chegou ao Partido dos Trabalhadores da Coreia, que resolveu fortalecer a fiscalização sobretudo na universidade rural onde ocorreu o episódio, localizada em Chongjin, a terceira maior cidade do país. Naquela região, a Liga da Juventude Patriótica Socialista recebeu ordens para orientar os jovens sobre a proibição, educando-os quanto à maneira correta de falar o coreano.
“As autoridades instruíram a Liga da Juventude Patriótica Socialista a implementar completamente um projeto de educação juvenil para erradicar o comportamento antissocialista nesta ocasião”, disse uma fonte que não teve a identidade revelada por questões de segurança.
Além dos próprios infratores, a punição pelo uso do vocabulário e do sotaque da Coreia do Sul pode recair também sobre os educadores. Eles correm o risco de cumprir a pena de trabalhos forçados caso sejam considerados culpados por não conseguir erradicar o comportamento subversivo entre os jovens.
Embora compartilhem o idioma, sul-coreanos e norte-coreanos adotam expressões bem diferentes no vocabulário e têm sotaques característicos, fáceis de identificar por quem conhece o idioma.
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