Desde maio do ano passado, o presidente da Turquia Recep Tayyip Erdogan vem se mostrando um obstáculo nas pretensões de Finlândia e Suécia de ingressar na Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte). No domingo (29), ele insinuou que pode dar carta verde aos finlandeses para que se tornem um Estado-membro da aliança militar antes dos suecos, segundo a agência Associated Press.
Foi a primeira vez que Ancara sinalizou que está disposta a tratar o pedido de adesão de Helsinque em separado do de Estocolmo. Quem não se mostrou satisfeito com a proposta foi o ministro das Relações Exteriores finlandês, Pekka Haaivisto, que defende a entrada simultânea de ambas as nações nórdicas.
A justificativa dada pelo governo turco, que faz parte da aliança e, como tal, tem poder de veto, é o de que pedido finlandês é “menos problemático” que o sueco, segundo o ministro das Relações Exteriores Mevlut Cavusoglu.
Isso porque, segundo a Turquia, a Suécia precisa adotar uma postura mais clara sobre o que Ancara considera “terrorismo”, referindo-se à tolerância sueca com indivíduos acusados de serem militantes de milícias curdas. Estocolmo cedeu parcialmente às exigências ao anunciar, em dezembro de 2022, a extradição de Mahmut Tat, acusado de ligação com o PKK (Partido dos Trabalhadores Curdos), grupo considerado extremista inclusive pelos EUA e a União Europeia (UE).
Atualmente, uma exigência pendente é a de que sejam extraditados 120 supostos militantes do PKK, lista já entregue à Suécia, bem como alguns seguidores do clérigo islâmico Fethullah Gulen, acusado da tentativa de golpe de 2016. O governo sueco, no entanto, afirma que qualquer decisão depende da posição do Judiciário.
“Na minha opinião, seria justo diferenciar entre o país problemático e o país menos problemático”, disse Cavusoglu durante coletiva de imprensa. “Acreditamos que, se a Otan e esses países tomarem tal decisão, podemos avaliar (a candidatura da Finlândia) separadamente”.
Tanto a Suécia quanto a Finlândia anunciaram planos de se juntar à Otan em maio de 2022. Os dois países abandonaram suas políticas de longa data de não alinhamento militar e solicitaram a adesão após as tropas de Vladimir Putin invadirem a Ucrânia em fevereiro.
A Otan exige aprovação unânime para admitir novos membros. Enquanto 28 dos 30 Estados da aliança ratificaram as mudanças do tratado em seus parlamentos nacionais, a fim de aprovar aceitação dos países nórdicos, Além da Turquia, a Hungria têm frustrado os planos de Helsinque e Estocolmo.
Em Helsinque, Haaivisto disse que o “forte desejo de seu país foi, e ainda é, ingressar na Otan junto com a Suécia”.
“Na verdade, enfatizamos a todos os nossos futuros parceiros da Otan, incluindo a Hungria e a Turquia, que a segurança finlandesa e sueca andam juntas”, disse o ministro finlandês, acrescentando que os dois países poderão se unir antes de uma cúpula da aliança militar em Vilnius, Lituânia, agendada para julho.
Erdogan faz vista grossa à adesão por conta de denúncias antigas feitas por ele mesmo de que nações escandinavas “são o lar para organizações terroristas”. No caso, ele se incomoda com o tratamento dispensado pelos pretendentes e outros países do Ocidente a organizações que a Turquia classifica como terroristas. Sobretudo as milícias curdas PKK e YPG (Unidade de Proteção do Povo) e os seguidores de Gulen.
“Algumas medidas foram tomadas na Suécia, como emendas constitucionais e legais”, disse Cavusoglu. “Infelizmente, houve passos para trás, devido às provocações de grupos que querem impedir a entrada da Suécia na Otan”.
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