A junta militar que governo Mianmar desde o golpe de Estado de fevereiro de 2021 é acusada de assassinar um integrante do partido NLD (Liga Nacional pela Democracia, da sigla em inglês). A família diz que Myo Linn foi morto durante um interrogatório após passar dois dias encarcerado, segundo informou a rede Radio Free Asia (RFA).
O homem, de 54 anos, teria sido detido no dia 3 de janeiro na casa dele, no município de Myittha, e familiares dizem que não foi dada uma justificativa para a prisão. Dois dias depois, receberam a informação de que ele havia adoecido e morrido.
O corpo não liberado pela junta, embora os parentes tenham sido autorizados a vê-lo. Uma das pessoas que teve acesso, pedindo anonimato por questões de segurança, afirmou que havia ferimentos em todo o corpo.
“Os familiares foram informados de sua doença no dia 5 (de janeiro), mas Myo Linn já havia morrido”, disse a fonte. “Quando os familiares o viram, ele tinha ferimentos nas mãos, joelhos e pés, e havia um grande buraco na cabeça”.
Isolamento global
A violência dos militares levou ao isolamento global de Mianmar, e o Conselho de Segurança da ONU aprovou uma resolução histórica que insta a junta a libertar Suu Kyi. A Resolução 2669 ainda exige “o fim imediato de todas as formas de violência” e pede que “todas as partes respeitem os direitos humanos, as liberdades fundamentais e o estado de direito”.
A proposta, feita pelo Reino Unido, foi aprovada no dia 21 de dezembro de 2021 com 12 votos a favor. Os membros permanentes China e Rússia se abstiveram, optando por não exercer vetos. A Índia também se absteve.
Beijing e Moscou, por sinal, estão entre os poucos governos do mundo que mantêm relações formais com Mianmar. Inicialmente, o golpe foi recebido com reprovação pela China, que vinha dialogando para firmar acordos comerciais com o governo eleito e perdeu bastante com a derrubada. Mas o cenário mudou desde então.
O governo chinês frequentemente se coloca ao lado da junta ao vetar resoluções que condenam a brutalidade dos atos contra opositores e a população civil em geral. A posição ficou evidente mais uma vez em dezembro, embora a China tenha optado por não vetar a resolução.
A China é um também dos principais fornecedores de armas para a juntar militar, desrespeitando um pedido de embargo global feito pela ONU para enfraquecer o regime birmanês. Entretanto, há indícios de que as forças locais seguem se equipando com novos armamentos chineses, bem tendo ainda como fornecedores complementares a Rússia e o Paquistão.
No dia 15 de dezembro, durante uma celebração do 75º aniversário da força aérea de Mianmar, líderes da junta apresentaram novos caças e helicópteros de ataque comprados desses três países. Entre os destaques, os sofisticados caças Sukhoi Su-30, de Moscou, e jatos FTC-2000G, de Beijing, comprados após o golpe e usados nos ataques aéreos em andamento do regime contra civis e forças de resistência que lutam ao lado de grupos étnicos armados em todo o país.
Por que isso importa?
Mianmar enfrenta “uma campanha de terror com força brutal”, segundo palavras da ONU (Organização das Nações Unidas). A repressão imposta pelo governo militar, uma reação às eleições presidenciais de novembro de 2020, já causou a morte de mais de 2,7 mil pessoas desde o golpe de 1º de fevereiro de 2021, segundo a ONG Associação de Assistência aos Prisioneiros Políticos (AAPP).
Na ocasião, a NLD venceu as eleições com 82% dos votos, ainda mais do que havia obtido no pleito de 2015. Em fevereiro, então, a junta militar, que já havia impedido o partido de assumir o poder antes, derrubou e prendeu a líder democrática Aung San Suu Kyi, que posteriormente foi julgada e sentenciada a 33 anos de prisão.
O golpe deu início a protestos no país, respondidos com violência pelas forças de segurança nacionais. A AAPP afirma que mais de 17 mil pessoas já foram presas, invariavelmente sem indiciamento ou julgamento, e muitas famílias continuam à procura de parentes desaparecidos. Jornalistas e ativistas são atacados deliberadamente, e serviços de internet têm sido interrompidos.
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