Autoridades no Laos ordenaram a suspensão das operações de uma mina de ouro administrada pela China na província de Oudomxay, no noroeste do país. O local ficará fechado enquanto uma investigação sobre uma série de acidentes fatais envolvendo mineiros é conduzida. As informações são da rede Radio Free Asia.
Em pedido emitido pelo Ministério de Minas e Energia da nação do sudeste asiático no dia 22 de setembro, a empresa chinesa Lao Zin Long foi informada de que a mina será permanentemente fechada caso continue ignorando as leis que que protegem os trabalhadores.
Os mineiros afirmam que muitos companheiros morreram ou ficaram feridos em deslizamentos de terra ou quedas de pedras. “Os números de baixas foram mantidos em segredo pelos funcionários da empresa”, disse um trabalhador sob condição de anonimato.
Um outro trabalhador revelou que a maioria dos acidentes ocorreu sob condições climáticas não favoráveis. “Isso se deve principalmente a deslizamentos de terra durante a estação chuvosa”, disse a fonte, que também pediu anonimato.
Apesar da determinação do governo local, o trabalho não foi interrompido na mina. “Não, nada parou. O trabalho está acontecendo aqui como de costume”, disse uma mulher que trabalha no local como tradutora.
Diante da ausência de notificação de acidentes, funcionários do Departamento de Minas e Energia da província de Oudomxay foram procurados, mas se recusaram a discutir o assunto, repassando a responsabilidade às autoridades do governo central na capital, Vientiane.
“Recebemos relatos de acidentes de forma não oficial ou vemos histórias sobre eles no Facebook, mas não podemos fazer nada sobre eles porque a empresa e as famílias das vítimas nunca nos notificam”, disse anonimamente um funcionário do departamento.
Por que isso importa?
Pelo menos 679 incidentes de violações de direitos humanos envolvendo empresas chinesas que operam no exterior foram registrados entre 2013 e 2020. A informação consta de um relatório divulgado pela ONG Centro de Recursos de Negócios e Direitos Humanos (BHRRC, na sigla em inglês) no ano passado.
O documento aborda a iniciativa chinesa batizada de “Nova Rota da Seda” (Belt and Road Iniciative, da sigla em inglês BRI) e suas consequências para comunidades marginalizadas em inúmeros países.
Quase um terço das violações ocorreram no sudeste da Ásia, incluindo Mianmar, Laos, Camboja e Indonésia. Países africanos e latino-americanos também tiveram destaque, incluindo Peru e Equador, pois empresas e bancos estatais chineses têm investido bilhões em armas, minério de ferro e eletricidade na América Latina, alavancando interesses econômicos dos asiáticos no continente e causando impactos ambientais e na vida de povos indígenas.
O relatório afirma, inclusive, que muitas das ofensas aos direitos humanos estão justamente ligadas às atividades empresariais chinesas de metal e mineração, energia de combustíveis fósseis e construção.
A Nova Rota da Seda, lançada pelo presidente chinês Xi Jinping em 2013, é um projeto plurianual de investimento e infraestrutura que visa à promoção da política externa e a influência da China em todo o mundo.
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