A TIM Brasil e a chinesa Huawei assinaram na quarta-feira (2) um memorando de entendimento (MoU, na sigla em inglês) para o desenvolvimento de uma cidade 5G em Curitiba. O contrato preliminar é o pontapé inicial para a criação da chamada “cidade inteligente”, conceito que define o uso da tecnologia da informação (TI) e comunicação por meio de redes de 5ª geração para melhorar a qualidade de vida. As informações são do portal Capacity Media.
Pelos termos do acordo, firmado durante o Mobile World Congress (MWC 2022), em Barcelona, o contrato é de dois anos, com possibilidade de ser prorrogado. Para o CTIO da Tim Brasil, Leonardo Capdeville, a parceria representa um passo importante para as ambições da empresa de telefonia em nível global.
“Este projeto é um dos passos para a TIM expandir os serviços 5G e se tornar uma das maiores operadoras do mundo”, disse, acrescentando que os primeiros testes devem ser finalizados até dezembro de 2023.
Segundo Capdeville, a escolha de Curitiba para alavancar o desenvolvimento da 5G no país com o apoio da gigante chinesa teve como critério a vocação para a inovação da capital paranaense.
“Curitiba é a cidade mais inovadora do Brasil e da América do Sul. Estamos empolgados para trabalhar em um projeto desse tipo, que pode afetar muito o desenvolvimento econômico de todo o país”, prevê.
Em comunicado, a TIM detalhou que a colaboração agrega uma “ampla cobertura 5G para a cidade”, inclusive a partir da tecnologia massive MIMO (mMIMO), que usa tecnologia de emissão de sinal por múltiplas antenas para acelerar a troca de dados entre o terminal e a rede da operadora. Equipamentos e soluções sustentáveis também estão no pacote da “5G City“, que promete levar ao consumidor baixo consumo de energia e custo.
Desconfiança
A parceria anunciada no Brasil não segue uma tendência global, que é de desconfiança com a multinacional chinesa. O governo do Reino Unido, por exemplo, anunciou em fevereiro o lançamento de uma consulta à indústria das telecomunicações, visando a controlar o envolvimento da Huawei no país. As medidas propostas buscam garantir a cibersegurança das redes móveis britânicas, ao passo em que a tecnologia 5G vem se tornando cada vez mais presente na infraestrutura nacional e no cotidiano da população.
A empresa também estaria ajudando o governo da Rússia a estabilizar sua internet em meio aos seguidos ciberataques realizados contra o país desde a invasão da Ucrânia. Isso ocorre porque hackers de todo o mundo têm realizado frequentes ataques digitais contra organizações estatais russas desde o início da guerra, o que tornou o serviço de internet instável no país.
A acusação foi reforçada por Peter Dutton, membro do parlamento australiano e atualmente ministro da Defesa do país. “Estamos vendo relatos hoje de que a Huawei, uma empresa de telecomunicações chinesa, está fornecendo suporte à Rússia para manter sua internet”, disse ele à TV australiana.
O parlamentar afirmou que os relatórios são “profundamente preocupantes”, quando “todos os outros países responsáveis do mundo estão procurando maneiras de sancionar e parar de negociar com a Rússia”.
Por que isso importa?
A desconfiança global que recai sobre a Huawei é baseada em teorias sobre sua proximidade com o governo chinês. Autoridades ocidentais citam a Lei de Inteligência Nacional da China, de 2017, segundo a qual as empresas nacionais devem “apoiar, cooperar e colaborar com o trabalho de inteligência nacional”, o que poderia forçar particularmente a gigante da tecnologia a trabalhar a serviço do Partido Comunista Chinês (PCC).
Em 2020, parlamentares britânicos afirmaram em um relatório que a Huawei está “fortemente ligada ao Estado e ao PCC, apesar de suas declarações em contrário”. Diante disso, a empresa tem enfrentado crescente desconfiança na construção de redes 5G em todo o mundo, com a implantação rejeitada em vários países. Austrália, Nova Zelândia, Portugal, Índia, EUA e Reino Unido baniram a infraestrutura da companhia por medo de ser usada para espionagem.
As especulações referentes aos produtos de vigilância da Huawei ganharam força no final de 2021 em meio a temores na China e no mundo sobre as consequências do uso maciço do reconhecimento facial e de outros métodos de rastreamento biométrico. E, ao mesmo tempo em que o PCC continua a confiar em tais ferramentas para erradicar a dissidência e manter seu regime de partido único, ele alerta sobre o uso indevido de tecnologias no setor privado.
Em 2021, após pressão de Beijing, a Huawei e outros gigantes da tecnologia foram compelidas a não abusar do reconhecimento facial e de outras ferramentas de vigilância, após uma nova lei de proteção de dados pessoais entrar em vigor. Mas o veto vale apenas para o setor privado. No setor público, o jornal The Washington Post revelou em dezembro que a ligação da Huawei com o aparato chinês de vigilância governamental é maior que o imaginado.
Os dados aparecem em uma apresentação de Power Point que estava disponível no site da empresa e foi removida. Repleto de itens “confidenciais”, o arquivo mostra como a tecnologia da empresa pode ajudar Beijing a identificar indivíduos por voz, monitorar pessoas de interesse, gerenciar reeducação ideológica, organizar cronogramas de trabalho para prisioneiros e rastrear compradores através do reconhecimento facial.
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