Um relatório da ONG Human Rights Watch (HRW) aponta que ao menos 86 pessoas estão desaparecidas em Bangladesh, todas vítimas da ação violenta das forças de segurança nacionais. O documento de 57 páginas, intitulado “‘Where No Sun Can Enter: A Decade of Enforced Disappearances in Bangladesh” (Onde nenhum sol pode entrar: uma década de desaparecimentos forçados em Bangladesh, em tradução literal), afirma que o governo “ignora apelos de governos doadores, da ONU, de organizações de direitos humanos e da sociedade civil para lidar com a cultura de impunidade”.
Brad Adams, diretor da HRW para a Ásia, atribui a responsabilidade à Awami League, o partido que governa o país desde 2009. “As autoridades de Bangladesh zombam das vítimas e obstruem as investigações rotineiramente, deixando claro que o governo não tem intenção de abordar de forma significativa os desaparecimentos forçados pelas mãos de suas forças de segurança”, diz ele.
Durante a investigação, a ONG realizou 115 entrevistas, com vítimas, familiares e testemunhas de casos de desaparecimentos forçados. Mais do que fazer vista grossa para os casos, o governo usa o medo como arma para silenciar a oposição.
O documento destaca, ainda, que o problema é antigo e não começou no atual governo. Porém, os desaparecimentos forçados, em particular, tornaram-se mais comuns no durante os mais de dez anos de governo da primeira-ministra Sheikh Hasina.
Adams cobra ação de órgãos internacionais na tentativa de elucidar os casos. “Como os críticos do governo vivem com medo de desaparecerem à força, e as famílias dos desaparecidos têm pouca esperança de obter justiça do governo, os especialistas em direitos humanos da ONU deveriam abrir uma investigação sobre os desaparecimentos forçados em Bangladesh”.
Grupos de direitos humanos de Bangladesh indicam que quase 600 pessoas desapareceram à força no governo de Hasina, que chegou ao poder em 2009. Muitas das vítimas foram libertadas ou apresentadas para julgamento após semanas ou meses de detenção secreta. “Outras foram vítimas de execuções extrajudiciais que são falsamente alegados como mortes durante tiroteios”, diz o documento.
O governo, por sua vez, nega qualquer participação nos desaparecimentos. Porém, segundo relatos das famílias, as autoridades habitualmente se recusam sequer a abrir investigação situações de desaparecimento, citando inclusive “ordens de cima”.
“O notoriamente abusivo Batalhão de Ação Rápida (RAB) é responsável por mais desaparecimentos forçados em Bangladesh do que qualquer outra unidade”, diz o relatório, que descreve a unidade como “esquadrão da morte”. A HRW destaca, ainda, que “dez senadores dos EUA publicaram uma carta bipartidária pedindo sanções contra os principais funcionários do RAB por execuções extrajudiciais, desaparecimentos forçados e tortura” em outubro de 2020.
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