Um grupo de jornalistas da imprensa independente russa publicou uma carta aberta ao presidente Vladimir Putin. No documento, eles pedem o fim da repressão jornalística no país e a suspensão das designações de “agentes estrangeiros” e “organizações indesejáveis” atribuídas a inúmeros veículos. As informações são do dite britânico The Guardian.
“Estamos convencidos de que esses eventos são parte de uma campanha coordenada para destruir a mídia russa independente, cuja ‘culpa’ inteira é constituída pelo cumprimento honesto de seus deveres profissionais para com seus leitores”, diz a carta. “Exigimos que esta campanha seja interrompida agora.”
Pela lei, empresas que tenham engajamento político na Rússia e recebam financiamento estrangeiro são incluídos na lista de “agentes estrangeiros”, um termo pejorativo que remete aos tempos de União Soviética e têm conotação bastante negativa, atrelada aos conceitos de espionagem e traição.
Quem acaba incluído nessa relação tende a ser financeiramente sufocado, devido à dificuldade de obter dinheiro através de meios como a venda de publicidade e ações de marketing. Fica vetado, ainda o acesso a documentos públicos, muitas vezes a fonte principal de informações jornalísticas.
Em meio à crescente repressão do governo Putin, sites noticiosos como Meduza e VTimes foram declarados “agentes estrangeiros”. Muitos jornalistas ligados ao oposicionista Alexei Navalny, atualmente preso em Moscou, tiveram suas casas invadidas pela polícia sob ordens de busca e apreensão. A Radio Free Europe, por sua vez, recebeu multas milionárias, e algumas empresas de mídia foram forçados a fechar devido ao rótulo.
A lista de veículos e jornalistas que assinaram a carta inclui a própria Radio Free Europe, cujo financiamento é norte-americano, o Meduza, cuja sede é na Letônia, o The Insider, parceiro do site investigativo holandês Bellingcat, a TV Dozhd e o site investigativo iStories.
A repressão começou a atingir inclusive jornalistas estrangeiros. A britânica Sarah Rainsford, correspondente da BBC, terá que deixar a Rússia ao final de agosto, quando se encerra a validade do visto dela. De acordo com Moscou, a negativa em renovar a permanência é uma retaliação, sob a alegação de que Londres também se recusou a conceder vistos a jornalistas russos.
“Estou sendo expulso”, disse ela. “Não é uma falha na renovação do meu visto, embora tecnicamente seja isso. Estou sendo expulso, e me disseram que não poderei voltar. Nunca”.
Por que isso importa?
Várias organizações russas estão na mira do Roskomnadzor, órgão regulador de internet e dos meios de comunicação. As punições são baseadas na “lei do agente estrangeiro” em garante às autoridades acesso a informações privadas das organizações não-governamentais e dos veículos de comunicação listados pelo governo.
A censura tem sido crescente contra as vozes pró-democracia no país. O principal crítico do governo Putin é Alexei Navalny, que está preso desde janeiro, quando retornou da Alemanha após cinco meses de recuperação médica. O opositor foi vítima de uma tentativa de envenenamento por novichok em 20 de agosto, quando retornava da Sibéria.
Em fevereiro, um tribunal o condenou a dois anos e meio de prisão por violar uma sentença suspensa de 2014, quando foi acusado de fraude. Promotores alegaram que ele não se apresentou regularmente à polícia em 2020 – enquanto estava em coma pela dose tóxica.
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