Este conteúdo foi publicado originalmente em inglês no jornal digital New Zimbabwe
Não seria totalmente impróprio afirmar que, como muitas nações africanas, o Zimbábue também está envolto pela influência chinesa, seja no que diz respeito às classes política, militar ou econômica.
Todas elas parecem estar se curvando aos poderosos chineses, que investiram pesado na economia do Zimbábue e que os habitantes locais temem levar assumir o controle de seus ativos por conta da constante inadimplência no pagamento dos empréstimos. Simplificando, o poder e a influência da China no Zimbábue podem ser reconhecidos pelo fato de que, apesar dos numerosos casos de abuso desenfreado por empregadores chineses da força de trabalho local, nenhuma medida foi tomada pelo governo.
As coisas se deterioraram a tal ponto que funcionários locais foram mortos a tiros por um empregador chinês em uma mina quando os trabalhadores exigiram seus salários legítimos pendentes.
É do conhecimento comum que os proprietários de empresas chinesas não prestam qualquer atenção à lei do Zimbábue e aos direitos legais dos cidadãos. Em vez disso, os discriminam em relação aos mineiros chineses, pagando-lhes baixos salários de apenas US$ 35 por mês.
Também foi relatado que esses empregadores agridem os empregados locais, forçando-os a operar em condições perigosas, desumanas, severas e com risco de vida, o que equivale à escravidão.
Em uma acomodação de uma empresa chinesa, até 16 moradores locais são colocados juntos em um quarto. Isso está sendo feito em um momento em que o mundo luta contra uma pandemia global de origem supostamente chinesa que exige distanciamento social entre as pessoas.
Uma das únicas organizações a levantar legitimamente a sua voz contra estes ataques por parte dos empregadores chineses é o Congresso do Sindicato do Zimbabué (ZCTU).
Os diplomatas chineses tentaram chegar a uma solução amigável com os líderes sindicais. Apesar das garantias, não conseguiram melhorar as condições de trabalho. Nesse ínterim, os líderes do ZCTU foram alertados sobre as terríveis consequências de destacar questões que afetam os interesses chineses na África, particularmente, no Zimbábue.
O ZCTU alega que o governo do Zimbábue encara seus problemas com um prisma chinês e, portanto, é incapaz de desenvolver estratégias para o bem-estar dos trabalhadores.
O Sindicato levou ao conhecimento do governo casos em que trabalhadores locais morreram no local da fábrica, mas suas mortes foram ocultadas pelos proprietários chineses, a fim de evitar o pagamento de indenização à família do falecido.
No entanto, ultimamente dada a complacência das autoridades do Zimbábue com as atrocidades chinesas, o ZCTU está considerando escalar esta questão dos direitos dos trabalhadores e o direito de viver com dignidade ao nível internacional. O objetivo é garantir que o governo do Zimbábue e os proprietários de fábricas ou minas chineses, com quem o governo parece ter conspirado, adotem medidas para findar os abusos sistemáticos e as condições análogas à escravidão dos trabalhadores locais.
Nesse sentido, o secretário-geral do ZCTU, Japhet Mayo, também lançou uma campanha nas redes sociais destacando os abusos chineses. Essas alegações contra os empregadores chineses foram apoiadas por evidências de tortura e condições de vida desumanas em unidades de fabricação de ladrilhos de cerâmica, mineração e em projetos de construção.
Com o tempo, os sentimentos anti-chineses no Zimbábue têm crescido continuamente, à medida que as pessoas começam a perceber que estão sendo oprimidas para servir aos interesses da China. Líder tradicional na província central de Mashonaland do Zimbábue, Chief Chiweshe acusou os cidadãos chineses de saquearem vastos recursos minerais como cromo e ouro e até mesmo destacou o papel abusivo e prejudicial desempenhado pela China na luta de libertação por um Zimbábue independente.
Chiweshe acusou a mineradora chinesa Afrochine de destruir o icônico parque natural de Mavuradona, que se acredita ser um lugar sagrado onde seus ancestrais e espíritos residem.
Observadores afirmaram que a Afrochine abriu as portas da região selvagem de Mavuradona e entrou na área movendo escavadeiras e maquinários pesados para extrair cromo desta zona restrita.
Infelizmente, todos esses empreendimentos de exploração chineses ocorrem em conluio com o Conselho do Distrito Rural de Muzarabani, já que as autoridades estão supostamente recebendo propinas no valor mínimo de 5% de cada investidor.
Esta é apenas a ponta do iceberg.
Além dos abusos em projetos realizados pela China, a influência crescente do país pode ser inferida pela forma como a liderança política e militar do Zimbábue dançou ao som das músicas chinesas.
O governo do Zimbábue foi derrubado por um golpe militar poucos dias depois da súbita visita do chefe militar do Zimbábue a Beijing.
Para a maioria dos analistas políticos e de segurança, isso não foi uma mera coincidência, mas parte de uma estratégia bem pensada para atender às necessidades dos chineses que preferem se envolver com regimes assertivos capazes de esmagar dissidentes de qualquer tipo. Curiosamente, a política da China para as nações africanas de ‘Olhar para o Leste’ é tão bem-sucedida no Zimbábue que o ex-presidente do país, Mugabe, uma vez anunciou, no estádio esportivo construído pela China em Harare, que “nos voltamos para o Leste, onde o Sol nasce, e demos as costas para o Oeste, onde o sol se põe”.
Em termos de controle dos assuntos políticos e estratégicos, a China é o único país que tem investido no apoio técnico ao aparelho de segurança do Estado e à Presidência, diretamente.
Porém, o principal papel dos chineses era construir infraestrutura, determinados a ter controle direto sobre tais obras, Beijing embarcou em uma missão para projetar suas capacidades técnicas e capacidades de vigilância e assim permitir o monitoramento de todos os cantos do país.
Para ganhar autoridade total sobre a defesa e os procedimentos parlamentares, a China construiu o National Defense College e também financiou a Casa do Parlamento com 650 lugares em Harare E está atualmente ativamente envolvida na exportação de tecnologia de Inteligência Artificial (IA) para o Zimbábue.
Por meio desses mecanismos, a China pretende ter acesso completo aos dados sobre cidadãos, militares e funcionários do governo do Zimbábue.
Em nome do avanço da inovação, o governo chinês fortaleceu sua posição nos países ao influenciar a segurança nacional e os aparatos relacionados à comunicação, exportando sua tecnologia de IA nativa para atividades em quase todas as esferas da vida.
Desta forma, os chineses penetraram “de forma inteligente” na vida de pessoas em outros países sem obter seu consentimento, assim como o roubo de dados e a vigilância associados à comunidade uigur na região de Xinjiang, na China.
Ao promover a Inteligência Artificial, empresas chinesas apoiadas pelo Estado, como Huawei, ZTC e Hikvision, convenceram os países a acreditarem na noção de colaboração para desenvolver uma área até então intocada que poderia resultar em maior crescimento e progresso para a população local.
Acredita-se que, até agora, a China gastou mais de US$ 20 bilhões nesta indústria e prevê usar mais de US$ 100 bilhões em um futuro próximo para a expansão da IA. Encantado com esta projeção de melhoria de vida, o Zimbábue concordou em usar o sistema chinês de IA para fins de defesa e segurança e, no processo, está ajudando na coleta de inteligência chinesa por meio de espionagem econômica e vigilância política.
Sem dúvida, a China está sendo cada vez mais reconhecida como líder mundial no campo de IA e outras tecnologias avançadas, mas, ao mesmo tempo, há uma percepção crescente de que a China despeja sua tecnologia obsoleta em nações menos desenvolvidas, particularmente em países africanos.
Note-se, o maior banco da China, o Banco Industrial e Comercial da China Ltda, sancionou US$ 3 bilhões para uma usina termoelétrica a carvão no Zimbábue. No entanto, o projeto sofreu um duro golpe quando 32 grupos ambientais, liderados pelo Go Clean ICBC destacaram os custos ambientais associados ao financiamento deste projeto de carvão Sengwa de 2.800 megawatts.
Na sequência dos protestos de ambientalistas, o banco chinês foi forçado a realizar um estudo de viabilidade do projeto que estava previsto para ser construído pelo Grupo China Gezhouba, enquanto as linhas de transmissão associadas seriam estabelecidas pela Power Construction Corporation of China Ltda..
Com a mudança climática ganhando o centro dos debates em todo o mundo, aumentando a consciência ambiental e a compreensão diferenciada das armadilhas da dívida chinesa e dos mecanismos de vigilância, resta saber se a África, como continente, e o Zimbábue, como nação, são capazes de resistir e lutar contra a exploração de seu povo e a extração de minerais preciosos de seus patrimônios.
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