Não é só o impacto ambiental que preocupa a população local no caso do projeto de construção de um porto na praia de Black Johnson, em Serra Leoa. Aliada à tecnologia dos navios pesqueiros chineses, a obra aprovada pelo governo local tende a ser devastadora para os pescadores locais, segundo a revista britânica The Economist.
O investimento de US$ 55 milhões no país africano está inserido na Nova Rota da Seda (Belt and Road Initiative), uma iniciativa da China para espalhar sua influência através do investimento em projetos de todo o mundo, voltados sobretudo a infraestrutura e transporte.
A alegação de especialistas, porém, é de que a China investe no exterior, mas o benefício é direcionado exclusivamente à própria população. “Eles estão criando um circuito fechado para suas próprias cadeias de suprimentos”, diz Whitley Saumweber, do instituto norte-americano Centro de Estudos Estratégicos e internacionais.
Não é um problema exclusivo de Serra Leoa, mas fica evidente no pequeno país da África Central. Os modernos barcos chineses representam três quartos da frota local e pescam, em um dia, cinco vezes mais que toda a frota de uma pequena vila pesca em um ano. E, com a construção de um porto voltado sobretudo a navios pesqueiros de alto mar, os maiores beneficiários tendem a ser os visitantes da China.
A insatisfação da população de Serra Leoa com o projeto pode ser medida com base em uma pesquisa de opinião feita em 2020. Apenas 41% dos entrevistados consideram a influência da China positiva no país. Uma queda considerável em relação ao número anterior, de uma pesquisa feita em 2015 que mostrou 55% de aprovação a Beijing.
Por que isso importa?
O projeto era debatido há 50 anos e prevê, além do porto, a construção de uma fábrica de farinha de peixe, que os ambientalistas classificam como um “desastre humano e ecológico internacional”. O Parlamento de Serra Leoa já aprovou a obra, que ocupará uma área de 250 acres, o equivalente a dez campos de futebol.
A ONG PSCO, que abriu financiamento coletivo para ajudar a população local, também contesta o projeto: “Este não é um problema local, é um problema internacional. A exploração dos estoques pesqueiros na África Ocidental afeta todo o planeta, destruindo recursos vitais e criadouros”.
A entidade justifica sua oposição: “As fábricas de farinha de peixe liberam produtos químicos tóxicos que destroem criadouros de peixes e dizimam os estoques de peixes para os pescadores locais. Elas poluem a terra e o oceano, matando peixes, animais e plantas, e acabam com a principal fonte de alimento local”.
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