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sexta-feira, 27 de agosto de 2021

ONU destaca ‘catástrofe’ em Tigré e diz que ‘estabilidade da região está em jogo’

Um confronto militar que começou há dez meses na região de Tigré, na Etiópia, está se espalhando, com sérias implicações políticas, econômicas e humanitárias, para o país inteiro. O alerta foi feito pelo secretário-geral ao Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas), António Guterres, na quinta-feira (26).

“Uma catástrofe humanitária se desenrola diante dos nossos olhos”, alertou Guterres. “A unidade da Etiópia e a estabilidade da região estão em jogo”, acrescentou, apelando ao cessar-fogo imediato e ao lançamento do diálogo político nacional.

Descrevendo a gravidade da situação, o chefe da ONU disse que as linhas de frente militares em Tigré alcançaram as regiões vizinhas de Amhara e Afar.

A declaração do governo feita no dia 28 de junho, sobre um cessar-fogo unilateral e a retirada das Forças de Defesa Nacional de Mekelle, não levaram a uma solução abrangente para o conflito.

Tigré permanece sob um bloqueio humanitário de fato e sem eletricidade e comunicações, informou o chefe da ONU aos embaixadores.

Refugiados da região de Tigré, Etiópia, ao chegar no Sudão em novembro de 2020 (Foto: UNHCR/Hazim Elhag)

Situação terrível

Guterres disse que as partes no conflito da Etiópia entraram na luta por meio da mobilização em massa e da ativação de grupos regionais e armados. “A retórica inflamatória e o perfil étnico estão destruindo o tecido social do país”, enfatizou.

Além disso, o preço humano da guerra “aumenta a cada dia”, já que mais de dois milhões de pessoas foram deslocadas e outros milhões precisam de alimentos, água, abrigo e cuidados de saúde imediatos, disse o Secretário-Geral.

Pelo menos 400 mil pessoas estão vivendo em condições semelhantes à fome, com o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) alertando que 100 mil enfrentam desnutrição aguda grave durante o ano.

Em meio a relatos de violência sexual e de gênero, campos de refugiados foram destruídos, e hospitais, saqueados.

“Condeno estes atos atrozes nos termos mais fortes possíveis”, disse o secretário-geral. “Deve haver responsabilidade”.

Acesso limitado, armazéns vazios

Embora a ONU e seus parceiros tenham se mobilizado para alcançar cinco milhões de pessoas com alimentos, Guterres disse que a resposta é “severamente” limitada pela insegurança, atrasos e uma série de restrições arbitrárias ao trabalho das agências humanitárias.

O acesso terrestre a Tigré agora depende de uma única rota, através de Afar, que envolve a passagem por vários pontos de controle.

Ao mesmo tempo, embora as agências exijam cerca de 100 caminhões de assistência para chegar a Mekelle todos os dias, nenhum caminhão chega há mais de uma semana. “Os armazéns agora estão vazios”, afirma o chefe da ONU.

Além de Tigré

Além de Tigré, o conflito em Afar e Amhara deslocou supostamente mais 300 mil pessoas, eventos que se desenrolaram juntamente com os esforços para manter um apoio mais amplo em toda a Etiópia em resposta à violência intercomunitária, inundações e infestação de gafanhotos.

Guterres disse que o conflito drenou um bilhão de dólares dos cofres da Etiópia, embora observe que a dívida está aumentando.

O acesso ao crédito está diminuindo, a inflação está em alta e o país apresenta a quinta maior incidência de casos de Covid-19 no continente.

Funcionário humanitário entrega remédios em um dos únicos centros de saúde em Tigré, abril de 2021 (Foto: Unicef/Mulugeta Ayene)

Diálogo nacional

Contra esse pano de fundo, o Secretário-Geral repetiu seu apelo às partes para que terminassem imediatamente as hostilidades, sem pré-condições, e negociassem um cessar-fogo duradouro.

Ele ressaltou que as forças estrangeiras devem deixar o país, o acesso humanitário completo deve ser garantido para todas as áreas necessitadas, os serviços públicos devem ser restaurados e as condições criadas para um diálogo político nacional inclusivo para abordar as causas do conflito e garantir que as vozes etíopes direcionem o caminho para a paz.

Observando que tem estado em contato próximo com o primeiro-ministro Abiy Ahmed e que, da mesma forma, recebeu uma carta do presidente da região de Tigré, o chefe da ONU disse que está pronto para trabalhar com a União Africana e outros parceiros para apoiar o diálogo. “Nos próximos anos, a atenção e a unidade do Conselho de Segurança serão fundamentais”.

“Em todos os sentidos, o futuro da Etiópia está em jogo”, disse o secretário-geral. “Nós nos comprometemos a fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para avançar no caminho da coesão e da paz nacional”.

Conteúdo adaptado do material publicado originalmente em inglês pela ONU News 

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