Dados oficiais das exportações de barbatanas de tubarão pelo México sugerem irregularidade no comércio com China e Hong Kong. A falta de sintonia entre os registros dos países de origem e destino sugere que o produto tem chegado à Ásia por vias ilegais, de acordo com a agência internacional IPS.
O México é, desde 2016, um forte exportador de barbatanas de tubarão para China e Hong Kong, segundo a Cites (Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas de Fauna e Flora Selvagens). Elas redem cerca de US$ 2 por quilograma aos mexicanos, e as barbatanas secas vendidas em Hong Kong chegam a custar até US$ 70 o quilograma.
Nos últimos anos, os dados da Cites são incompatíveis no que tange às importações e às exportações, no caso dos países envolvidos. Há um desacerto entre a quantidade de carne de tubarão que sai do México e a que chega a China e Hong Kong.
As discrepâncias geram dúvidas quanto ao fato de as barbatanas de tubarão serem realmente provenientes do México, e a probabilidade de barbatanas ilícitas passarem por canais de comércio legítimos antes de chegarem aos mercados asiáticos. É uma espécie de lavagem de dinheiro, mas com as barbatanas de tubarão.
“É difícil investigar a corrupção, mas implica que as coisas não estão sendo bem feitas. E estamos falando de um organismo internacional”, afirma Alejandro Olivera, representante do CBD (Centro de Diversidade Biológica, da sigla em inglês). “Deveria haver um mecanismo melhor na Cites, porque ela confia demais na informação dada pelos países. Todos os anos há um debate sobre isso, mas um acordo melhor para certeza e rastreabilidade (dos dados) ainda não foi alcançado ”
Neste ano, as exportações aumentaram muito. Do México para Hong Kong, por exemplo, elas saltaram de 8,6 toneladas em 2019 para 55 toneladas em 2021. Em 2020 a exportação para a China não foi autorizada oficialmente, mas a Cites registra a chegada de 6 toneladas do produto ao país asiático.
Por que isso importa?
Um estudo publicado recentemente na revista científica Nature sugere que embarcações de pesca chinesa têm atuado de maneira irregular ao pescar espécies proibidas. Um grupo de pesquisadores afirma que tubarões capturados pelo pesqueiro chinês Fu Yuan Yu Leng 999, na reserva marinha das Ilhas Galápagos, no Equador, em 2017, são de espécies ameaçadas.
Os tubarões em questão pertencem a 12 espécies classificadas como vulneráveis ou em maior risco pela União Internacional para Conservação da Natureza. Destas espécies, oito são protegidas pela Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Fauna e Flora Selvagens Ameaçadas de Extinção.
O artigo relata que o maior número de espécimes capturadas pelo Fu Yuan Yu Leng 999 foi de tubarão-seda, “a segunda espécie mais abundante nos mercados de Hong Kong e Guangzhou na China, os maiores centros varejistas de barbatanas de tubarão do mundo“. Havia também 122 tubarões-martelo, listado como “criticamente em perigo” de extinção, e 188 barbatanas de tubarão.
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