O governo do Quênia decidiu, ao menos por enquanto, que não tem condições de proibir a importação de peixes da China, como chegou a cogitar na semana passada. A razão para a desistência é a escassez de peixes no país africano, de acordo com o jornal local Daily Nation.
“O desafio que temos no país é o peixe local insuficiente para satisfazer o mercado. Portanto, não se pode proibir as importações que preencham essa lacuna que enfrentamos. Você só proíbe quando aumenta a capacidade de produção local”, disse Peter Munya, secretário de gabinete do Ministério da Agricultura.
Segundo Munya, a necessidade é fortalecer a estrutura nacional de pesca e criação de peixes. “Enquanto isso, e até resolvermos o problema, continuaremos importando peixes“, disse ele, que atribuiu os altos preços à escassez. “O peixe local é muito caro. Você vai no restaurante e… Por quê? Porque existe uma grande carência. Pedimos às pessoas que invistam neste setor. É uma oportunidade para as pessoas fazerem criação de peixes”.
O objetivo da proibição era proteger os pescadores nativos da nação africana, sob o argumento de que o país tem estoques de peixes suficientes em seus lagos, rios e oceanos.
Números oficiais divulgados pelo portal Africa News mostram que, em 2019, o Quênia registrou uma produção anual de peixes de 146,6 mil toneladas métricas (TM). Em média, o país produz cerca de 160 mil TM por ano, com potencial para chegar a 300 mil TM. O déficit é de quase 400 mil TM, o que inviabilizaria a proibição, nas condições atuais.
Mercado local chinês
Relatório divulgado pelo rastreador Global Fishing Watch (site que monitora atividades de pesca comercial no mundo) revelou que, entre maio e agosto, as águas do Quênia tiveram tráfego de mais de 230 embarcações, sendo a maior parte de origem estrangeira.
A maioria desses pesqueiros pertence a países como Itália, China, Taiwan e Hong Kong, tendo registrando aproximadamente 50 mil horas dentro da fronteira marítima queniana. As embarcações têm tecnologia para a pesca em águas profundas, enquanto, por falta de recursos, os quenianos limitam-se à atividade semi-industrial.
Relatórios indicam que, para atender às demandas locais, peixeiros de diversas regiões do Quênia têm que complementar seu estoque diário com peixes importados da China, mais baratos que os adquiridos localmente.
“Eu apoio a proibição, mas devemos capacitar o pescador para primeiro aumentar a produção. Um quilo de tilápia da China é vendido a 250 xelins quenianos, enquanto o mesmo peixe do Lago Vitória é 500”, disse o presidente da Associação Wavuvi do Quênia, Hamidi Omar.
Enquanto o Quênia atravessa grande déficit de pescado no mercado local, a China responde pela maior parte dos peixes importados do mundo, arrecadando 70% do valor total dos embarques em 2020, conforme aponta a reportagem do Africa News.
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