Se os EUA planejam fazer oposição eficiente à China, terão de deixar de lado a estratégia de “América primeiro” e organizar uma frente de defesa de com outras democracias globais, argumenta o pesquisador Edward Lucas, do Cepa (Centro Europeu de Análise Política).
Em ensaio para a revista norte-americana “Foreign Policy“, Lucas avalia que falta liderança para reavaliar a antiga premissa de que bastava introduzir a China aos mercados internacionais e o país se liberalizaria.
Se na economia a abertura chinesa já é um processo de décadas, na política a tendência é de concentração de poder nas mãos do presidente Xi Jinping – que desde 2018 pode concorrer a um número ilimitado de mandatos.
Para Lucas, a China de Xi busca um sistema internacional onde dá as cartas e não segue regras previamente estabelecidas pelo atual sistema. Para alcançar o objetivo, dispõe de intimidação, propaganda e práticas pouco competitivas no âmbito do comércio e dos investimentos para o exterior.
Dessa forma, esse “poder afiado” exploraria flancos de fragilidade na diplomacia, na economia, na política, e na sociedade alheias. Isso até que a China se torne a maior potência mundial, o que deve acontecer até 2049.
A proposta do pesquisador seria uma abordagem baseada em cooperação entre nações ocidentais – Lucas usa o exemplo da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), “a mais bem-sucedida aliança militar na história recente”.
Como meta, contrapesar o que define como uma estratégia “disciplinada, de longo prazo, imbuída de princípios leninistas de guerra política“, elaborada pelos burocratas do sistema de partido único.
“Solidariedade e espontaneidade são desconcertantes para aqueles educados na perspectiva doutrinária do Partido Comunista em relação à política e a natureza humana”, diz.
O governo de Donald Trump, avalia, teria como grande falha a ausência de liderança internacional, embora tenha compreendido “as ambições hegemônicas do Partido”.
Já o mandato de Joe Biden, que começa em 20 de janeiro, terá como desafio reinserir os EUA em fóruns do qual o país se retirou – alcançando como resultado apenas um maior protagonismo chinês em arenas multilaterais forjadas no pós-guerra pelos EUA, como as do sistema das Nações Unidas.
Para Lucas, além da cooperação em questões econômicas e de tecnologia como o 5G ou de terras-raras, substâncias usadas em aparelhos eletrônicos, será fundamental unir forças em inteligência e governança.
Incentivos à independência de Taiwan, colocando o país como a “outra China”, que joga pelas regras do multilateralismo liberal-democrático, também serão úteis para marcar posição contra o sistema chinês.
Em vez de vantagens econômicas com vistas no curto prazo, o Ocidente terá de encontrar uma boa medida para a integração com uma China cada vez mais incorporada às cadeias de produção globais – o que exige estratégia oposta ao modelo de contenção via isolamento da antiga União Soviética.
Agora, a saída será diversificar as cadeias, investir em setores estratégicos no exterior, diminuir as transferências de tecnologia para a China e, em casos específicos, impor sanções.
Em último caso, finaliza Lucas, a cooperação ocidental servirá também para garantir que a produção e os empregos sofram menos com uma dissociação – primeiro política, mas também econômica – da dependência dos chineses.
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