Uma “pandemia de fome”. Esse foi o termo usado por David Beasley, diretor global do WFP (Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas), para definir a situação da segurança alimentar em 2021.
A fala aconteceu durante o Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça, que teve neste ano uma edição virtual até a última sexta (29).
Beasley também lembrou que o problema não é exclusivo dos países pobres, mas os atinge de maneira ainda mais brutal e desproporcional graças aos solavancos econômicos causados pela pandemia.
“Se você acha que teve problemas para encontrar papel higiênico em Nova York por causa de uma interrupção na cadeia de suprimentos, o que você acha que está acontecendo no Chade, no Mali, no Níger e em lugares assim?”, questionou o chefe do WFP, entidade que recebeu o Prêmio Nobel da Paz de 2020.
O que leva à fome
O WFP estima que, neste momento, 700 milhões de pessoas vivem uma situação de insegurança alimentar grave – trocando em miúdos, fome. Outras 270 milhões deixaram de ter comida suficiente por consequência da pandemia.
Em paralelo, os preços globais de alimentos atingiram o patamar mais alto dos últimos seis anos. O dado é compilado todo mês pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura).
Entre as razões para o aumento estão, além das interrupções na cadeia de suprimentos, geradas pela pandemia, sobretudo questões climáticas que tiveram impacto sobre a colheita e a produção.
A revista “The New Humanitarian”, especializada na cobertura de direitos humanos, indica que, além do clima, o principal vetor da fome são ascrises anteriores à Covid-19 – “em geral, causadas por conflitos e pobreza”.
Alimentos no mundo
A fome gerada pela devastação da guerra é a realidade de países como os africanos Camarões, República Centro-Africana, República Democrática do Congo e Níger.
Já a crise econômica de longo prazo e anterior à pandemia será o principal motor da fome em Líbano, Haiti, Venezuela, Sudão e Zimbábue. Na Síria, a escassez é efeito direto da guerra civil que destruiu o país na última década e deixou como legado a falência econômica local.
Questões relacionadas ao clima terão peso relevante em crises alimentares na Etiópia e na Somália, onde está prevista uma gigantesca onda de gafanhotos ocasionada pelo fenômeno La Niña, além de uma forte seca.
Em Moçambique, os conflitos com jihadistas no norte do país vêm acompanhados com uma seca considerada sem precedentes, que já dura três anos e castiga a porção sul do país.
No Iêmen, onde ocorre neste momento a maior emergência humanitária do mundo segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), os gafanhotos têm potencial de devastar a pouca atividade agrícola que restou após meia década de guerra civil.
Na América Latina, a crise econômica gerada pela pandemia do novo coronavírus já causa o aumento da pobreza e da fome em toda a região – trajetória que deve continuar ao longo de 2021 – e na ausência da vacinação em massa contra a doença.
Há temores de que a arrecadação de doações para ajuda humanitária, que registrou forte queda em 2020, continue neste ano.
No ano passado, apenas 46% das necessidades de financiamento foram atendidas, segundo dados da Unocha (Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários).
Os cinco maiores doadores para a entidade são os governos dos EUA, da Alemanha, do Reino Unido e do Japão, além da Comissão Europeia.
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