O ex-presidente polonês e Nobel da Paz de 1983, Lech Walesa, um dos grandes nomes do movimento popular que tomou a Europa oriental no final de década de 1980 dos regimes comunistas na região, vê o surgimento de uma ditadura na Polônia dos últimos anos.
A avaliação foi feita em uma entrevista à “New York Review of Books“, publicada nesta segunda (31). A responsabilidade pela erosão democrática polonesa seria do atual presidente, Andrsej Duda, e o líder do partido governista, Lei e Justiça, Jaroslaw Kaczynski.
Kaczynski e seu irmão, Lech, foram aliados de primeira hora de Walesa nos tempos do sindicato Solidariedade. A agremiação, fundada em 31 de agosto de 1980, sedimentou um movimento político pró-abertura na derrocada do modelo comunista, entre 1989 e 1991.
A Polônia de hoje
Hoje, Walesa vê Kaczynski como “um líder perigoso”. O motivo são os ataques constantes do governo do Lei e Justiça contra o Judiciário polonês. As investidas são formas algo sutis de minar o jovem sistema democrático local por dentro, avaliam representantes da UE (União Europeia).
“Ele quer eliminar aquilo que não lhe agrada. Depois que tomar conta dos tribunais, por exemplo, ele vai notar que outra coisa lhe desagrada e vai tentar conquistar outras instituições. Assim, se cria uma ditadura”, afirma.
Em 2015, o Lei e Justiça conseguiu maioria nas duas casas do Parlamento polonês. Desde então, seu modelo conservador, xenófobo, eurocético – mas não o suficiente para deixar a UE –, permeado por nacionalismo e intervencionismo econômico, vem acompanhado de uma inédita concentração de poder.
A meta, segundo o presidente Duda, reeleito neste ano, é “limpar a Casa polonesa, para que fique limpa, organizada e bonita”. A frase, de janeiro deste ano, foi relembrada pelo jornalista Lukasz Pawlowski, em artigo ao diário britânico “Financial Times“.
O futuro, segundo Walesa
“Estamos em uma situação desconfortável, entre épocas”, afirma o ex-presidente. Nesta nova era, a democracia terá de se adaptar à internet, aos dispositivos móveis e à necessidade de uma infraestrutura de informação, de propriedade intelectual e de globalização.
A ascensão do populismo, por sua vez, encontrou eco nas “necessidades de pessoas cansadas do quão complicado e enganoso é esse novo mundo que emerge” usando “slogans simples”.
O movimento populista acabará, avalia Walesa, quando a sociedade encontrar respostas para as fundações da sociedade do futuro, mais globalizada e mais independente de identidades nacionais e religiões.
Também será preciso forjar um sistema econômico eficiente, que supere as falhas do modelo atual. Por último, e mais complicado, como lidar com a demagogia desses líderes, como Duda e o premiê húngaro Viktor Orbán.
Dentro dos países, o fortalecimento de um modelo tripartite – com Legislativo, Executivo e Judiciário – controlando excessos uns dos outros, continua fundamental. Do contrário, “autoridades tendem a abusar de seus poderes”.
Para responder a essas questões no exterior, entidades e blocos multilaterais precisaram criar novos mecanismos para “coordenar a ação e a conduta dos Estados”, na avaliação de Walesa.
Uma união da UE e dos EUA pode ser a saída para contrabalancear o peso cada vez mais evidente da economia chinesa no resto do mundo. “Com algo unificado, a China terá de nos tratar de igual para igual”, opina.
No caso da UE, por exemplo, o polonês avalia que, ou o bloco se renova, ou será posto abaixo. “Cinco minutos depois, estabelecemos um novo corpo com uma fundação mais sólida, direitos e responsabilidades para todos os membros, sem exceção.”
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