A explosão de uma bomba em um posto de checagem de segurança perto do aeroporto militar de Cabul, capital do Afeganistão, no domingo (1º), deixou “muitas” pessoas mortas. A informação foi divulgada por Abdul Nafi Takor, ministro do Interior do Taleban, e reproduzida pela rede Radio Free Europe (RFE).
O local atingido pelo ataque fica a cerca de 200 metros do aeroporto civil e próximo ao escritório do Ministério do Interior. Também na região ficam localizadas embaixadas estrangeiras e o palácio presidencial, embora nenhuma dessas instituições tenha sido atingida.
Takor falou apenas em “muitos” mortos, sem informar um número preciso de vítimas. Ele declarou ainda que novos detalhes seriam divulgados somente após uma investigação que já está em andamento.
Khalid Zadra, porta-voz dos serviços de segurança de Cabul, seguiu pelo mesmo caminho e foi vago ao dizer que “vários de nossos compatriotas foram martirizados ou feridos”.
Nesta segunda-feira (2), o Estado Islâmico-Khorasan (EI-K), principal rival doméstico do Taleban, assumiu a autoria do ataque, segundo a agência Reuters. Através do aplicativo de mensagens Telegram, o grupo radical disse ainda que 20 pessoas morreram e 30 ficaram feridas. O Taleban desmente esses números.
Por que isso importa?
Nos últimos meses, o Taleban entrou na mira da ONU (Organização das Nações Unidas) e de entidades humanitárias globais por sua inabilidade de governar o Afeganistão, inclusive no campo da segurança, e pela dura repressão que impõe sobretudo às mulheres e meninas afegãs.
Na abertura da 51ª sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU, em setembro de 2022, mais de 20 governos e entidades condenaram a repressão de gênero no Afeganistão. As críticas foram motivadas sobretudo pela proibição imposta às meninas na educação, com as escolas de ensino médio fechadas e, mais recentemente, o veto à presença feminina nas universidades.
No final de agosto, Josep Borrell, chefe da diplomacia da União Europeia (UE), também havia condenado a atuação dos radicais como governantes afegãos de fato, pouco depois de eles completarem um ano no poder, no dia 15 daquele mês.
“O Afeganistão pode ter saído das manchetes. No entanto, a situação de seu povo é terrível”, dizia texto, listando ainda abusos cometidos pelos radicais que contrariam a moderação prometida após a tomada de poder. “Todas as meninas, apesar das promessas anteriores, são proibidas de estudar; vastas áreas do país são assoladas pela fome (70% da população); e muitos afegãos vivem com medo ou no exílio”.
Já em setembro, a ONG Human Rights Watch (HRW) publicou relatório destacando a ineficiência dos talibãs em sua obrigação de proteger a população local, especialmente algumas minorias xiitas, das ações violentas do EI-K. O documento foca particularmente no caso dos hazaras.
“Desde a tomada do Taleban, combatentes ligados ao Estado Islâmico cometeram vários ataques brutais contra membros da comunidade hazara enquanto iam para a escola, para o trabalho ou para rezar, sem uma resposta séria das autoridades do Taleban”, disse Fereshta Abbasi, pesquisador da ONG para o Afeganistão. “O Taleban tem a obrigação de proteger as comunidades em risco e ajudar as vítimas de ataques e suas famílias”.
O descaso com a minoria xiita contraria uma das muitas promessas feitas pelo Taleban quando chegou ao poder. “Como governo responsável, somos encarregados de proteger todos os cidadãos do Afeganistão, especialmente as minorias religiosas do país”, disse em outubro de 2021 o porta-voz do Ministério do Interior Saeed Khosty.
A promessa não cumprida chegou a ser citada pelo próprio Richard Bennett, que em maio deste ano pediu investigações sobre os ataques às comunidades hazara, xiita e sufi, destacando que eles estão “se tornando cada vez mais sistemáticos por natureza e refletem elementos de uma política organizacional, trazendo assim marcas de crimes contra a humanidade”.
*matéria atualizada com a informação de que o Estado Islâmico-Khorasan assumiu a autoria do ataque
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