A Justiça do Irã condenou a duas penas de morte um jovem iraniano de 18 anos, envolvido nos protestos que tomaram as ruas do país desde setembro. Mehdi Mohammadifard foi sentenciado pelos crimes de “corrupção na Terra” e “guerra contra Deus”, segundo informações da agência de notícias ativista HRANA.
Além das condenações que levaram à pena capital, ele foi condenado a seis meses de prisão por fazer “propaganda contra o regime”, a dois anos por “incitar as pessoas a assassinar e perturbar a segurança nacional” e a um ano por “insultar o Líder Supremo do Irã”.
Um relatório emitido por entidades humanitárias afirma que o jovem não teve o direito de escolher o próprio advogado no julgamento, que foi realizado a portas fechadas. Outra denúncia é a de que ele foi coagido, sob tortura, a confessar seus crimes.
Pelo menos cem pessoas já foram condenadas à morte ou acusadas de cometer crimes capitais em meio à onda de protestos antigoverno que começou após a morte da jovem curda Mahsa Amini.
Segundo a ONG Direitos Humanos do Irã (IHR, na sigla em inglês), com sede em Oslo, na Noruega, cinco mulheres estão entre as condenadas à pena capital. E existe possibilidade de que o número real seja muito maior, já que as famílias têm sido pressionadas pelas autoridades a se manter em silêncio.
Um relatório publicado pelo grupo humanitário foi capaz de identificar apenas cem indivíduos cujas sentenças ou indiciamentos foram anunciados por autoridades ou relatados por suas famílias pela mídia.
Somente em dezembro, dois homens foram executados no que os ativistas dizem ser “julgamentos falsos”. Um deles é Majidreza Rahnavard, de 23 anos, enforcado em público na cidade de Mashhad, no nordeste do país. Ele foi condenado à morte sob acusação de ter esfaqueado dois membros das forças de segurança durante os protestos.
O outro é Mohsen Shekari, 23, enforcado após ter sido condenado pelo crime de “inimizade contra Deus”, segundo informou a mídia estatal iraniana. Ele teria liderado um grupo de manifestantes que bloqueou uma estrada de Teerã e feriu um integrante de uma milícia armada ligada ao governo.
Por que isso importa?
Nos últimos meses, protestos populares tomaram as ruas do Irã após a morte de Mahsa Amini, uma jovem de 22 anos que visitava Teerã, capital do país, quando foi abordada pela “polícia da moralidade” por não usar “corretamente” o hijab, o véu obrigatório para as mulheres. Sob custódia, ela desmaiou, entrou em coma e morreu três dias depois.
Os protestos começaram no Curdistão, província onde vivia Mahsa, e depois se espalharam por todo o país, com gritos de “morte ao ditador” e pedidos pelo fim da república islâmica. As forças de segurança iranianas passaram a reprimir as manifestações de forma violenta, com relatos de dezenas de mortes.
No início de outubro, a ONG Human Rights Watch (HRW) publicou um relatório que classifica o regime iraniano como “corrupto e autocrático”, denunciando uma série de abusos cometidos pelas forças de segurança na repressão aos protestos populares, inclusive mortes.
Além dos mortos e feridos, a HRW cita os casos de “centenas de ativistas, jornalistas e defensores de direitos humanos” que, mesmo de fora dos protestos, acabaram presos pelas autoridades. Condena ainda o corte dos serviços de internet, com plataformas de mídia social bloqueadas em todo o país desde o dia 21 de setembro, por ordem do Conselho de Segurança Nacional do Irã.
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