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sexta-feira, 9 de setembro de 2022

Ataque de grupo ligado ao Estado Islâmico mata ‘dezenas’ de pessoas no Mali

Um ataque atribuído Estado Islâmico do Grande Saara (EIGS) matou “dezenas” de civis no norte do Mali nos últimos três, segundo afirmou nesta sexta-feira (9) uma autoridade local. As informações são do site The Defense Post.

A violência ocorreu na cidade de Talataye, a cerca de 150 quilômetros de Gao, a capital regional. O EIGS assumiu o controle da área na quarta-feira (7), após um sangrento conflito contra rebeldes e o Grupo de Apoio ao Islã e aos Muçulmanos (GSIM, na sigla em francês), esta uma facção vinculada à Al-Qaeda.

“O pessoal do EIGS chegou nesta tarde (quarta-feira) em motocicletas, os combates duraram três horas”, disse há dois dias um dos rebeldes locais, membro do Movimento para a Salvação de Azawad (MSA), uma milícia armada ligada ao movimento étnico tuareg.

Talataye fica localizada em uma região árida e remota e é formada essencialmente por aldeias, com uma população de milhares de pessoas. Trata-se de uma área fora do controle do governo central maliano, onde grupos como MSA e GSIM são a autoridade de fato.

Assimi Goita, coronel que governa o Mali, escoltado pelo exército (Foto: Twitter/PresidenceMali)
Por que isso importa?

A instabilidade no Mali começou com o golpe de Estado em 2012, quando vários grupos rebeldes e extremistas tomaram o poder no norte do país. De quebra, a nação, independente desde 1960, viveu em maio de 2021 o terceiro golpe de Estado em um intervalo de apenas dez anos, seguindo o que já havia ocorrido em 2012 e também em 2020.

A mais recente turbulência política começou semanas antes do golpe, com a demissão do primeiro-ministro Moctar Ouane pelo presidente Bah Ndaw. Reconduzido ao cargo pouco depois, Ouane não conseguiu formar um novo governo, e a tensão aumentou com a falta de pagamento dos salários dos professores. O maior sindicato da categoria, então, começou a se preparar para uma greve.

Veio a noite do dia 24 de maio, quando o coronel Assimi Goita, vice-presidente do país, destituiu Ndaw e Ouane de seus cargos e ordenou a prisão de ambos na capital Bamako. Segundo ele, os dois líderes civis violaram a carta de transição ao não consultarem o militar na formação do novo governo.

Ao contrário do que ocorreu em golpes anteriores, que contaram com apoio popular, desta vez a maior parte da população malinesa rejeitou a tomada de poder por Goita, que derrubou o governo de transição recém-instituído e assumiu o comando do país. A população civil não foi às ruas protestar contra o militar, mas usou as redes sociais para mostrar sua insatisfação.

Em meio à instabilidade política, cresceu no país a presença de grupos jihadistas ligados à Al-Qaeda e ao EI, o que levou a uma explosão da violência nos confrontos entre extremistas e militares, com milhares de civis entre as vítimas.

Os conflitos, antes concentrados no norte do Mali, se expandiram inclusive para os vizinhos Burkina Faso e Níger. Assim, a região central maliana se tornou um dos pontos mais violentos de todo o Sahel africano, com frequentes assassinatos étnicos e ataques extremistas contra as forças do governo.

A situação torna-se ainda mais delicada devido à retirada das tropas da França, que até agosto deste ano colaboravam com o governo nacional nas operações de contraterrorismo. A decisão de Paris gera dúvidas quanto à capacidade de o país africano sustentar os avanços obtidos na luta contra os insurgentes.

Quem assumiu o vácuo dos franceses foi o Wagner Group, um grupo russo de mercenários que firmou acordo de cooperação com Goita. Fontes sustentam que o pagamento pelos serviços da organização russa seria de US$ 10,8 milhões por mês, dinheiro que viria da extração de minerais.

Segundo o general francês Laurent Michon, comandante da Operação Bakhane das forças armadas da França, a retirada de suas tropas não tem nenhuma relação com a chegada dos mercenários, como se especulava. Ele diz que o governo militar maliano desde o início deixou claro seu desejo de “nos ver partir sem demora”.

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