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sexta-feira, 1 de abril de 2022

Acusada de blasfêmia, professora é assassinada por colega e alunas no Paquistão

A professora Safoora Bibi foi morta a facadas na última terça-feira (29) na cidade de Dera Ismail Khan, no noroeste do Paquistão. As autoras do crime foram uma colega de trabalho e duas sobrinhas dela, que eram também alunas da vítima. As informações são da rede Gandhara.

Quando se dirigia ao trabalho, Bibi sofreu uma emboscada armada pelas três mulheres, que a atacaram com paus e facas. Ela foi cercada quando entrava no seminário islâmico para mulheres Jamia Islamia Falahul Binaat, onde dava aulas. Morreu esfaqueada seguidas vezes e teve a garganta cortada.

A polícia deteve as três suspeitas, que confessaram. Quem idealizou o crime foi Umra Aman, uma professora que teve como cúmplices duas sobrinhas, ambas alunas de Bibi.

Sede do governo do Paquistão, na capital Islamabad, em fevereiro de 2004 (Foto: Divulgação/Maqsoodgujjer)

As jovens alegam que um parente “viu em seus sonhos que Safoora Bibi cometeu blasfêmia”, segundo relato de Najmul Hasan Liaqat, um agente de polícia. Já as autoridades investigam se a vítima e as acusadas teriam alguma desavença pessoal

De acordo com um tio de Bibi, Zahid Qureshi, não havia “inimizade” entre elas. “Eles frequentavam as aulas e às vezes voltavam da escola juntos”, disse ele. “Um ato cruel foi cometido contra nós e exigimos justiça das autoridades”.

Maulana Shafiullah, diretora do seminário, disse que Bibi lecionava na escola há dois anos e confirmou que as três suspeitas eram moradoras locais.

Por que isso importa?

Mais de 90 pessoas acusados de blasfêmia foram mortas nas últimas sete décadas no Paquistão, de acordo com o Centro de Pesquisa e Estudos de Segurança, um think tank de Islamabad. As acusações nem sempre envolvem o governo, sendo muitas vezes feitas informalmente por conhecidos. E isso invariavelmente leva a agressões, linchamentos e mortes.

Um relatório divulgado em janeiro deste ano pelo think tank afirma que, desde a independência do país, em 1947, mais de 1,4 mil pessoas foram acusadas de blasfêmia, tanto nos tribunais paquistaneses quanto por civis. Mais de 1,2 mil desses casos foram documentados somente na última década.

Por um lado, o governo paquistanês afirma frequentemente que adota uma política de tolerância zero para ataques contra outros cidadãos. Entretanto, a legislação local acaba por incentivar a fúria popular, vez que as leis de blasfêmia do Paquistão prescrevem a pena de morte por insultar o profeta Maomé ou o Alcorão.

Ativistas de direitos humanos afirmam, ainda, que as leis paquistanesas são frequentemente usadas pelo Estado para o acerto de contas pessoais ou o silenciamento de vozes dissidentes. E que Islamabad está relutante em revogar ou reformar tais normativas legais, o que levaria ao controle de poderosos grupos islâmicos linha-dura.

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