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quinta-feira, 28 de abril de 2022

Chinês que vive na Holanda diz ter sido ameaçado por Beijing após apoiar a Ucrânia

Um cidadão chinês que vive atualmente na Holanda diz que tem sido ameaçado pelo governo da China, mesmo vivendo no exterior, porque se posicionou contra a guerra e a favor da Ucrânia. Eles diz que as autoridades de seu país usaram o pai e a mãe dele, que ainda vivem na China, para pressioná-lo. As informações são da rede Radio Free Asia.

Gao Ronghui, que nasceu na província de Fujian, no sudoeste da China, apresentou gravações de áudio para comprovar as ameaças. Em conversa com um agente do governo chinês, Gao diz apoiar a posição da Ucrânia no conflito, sendo depois questionado se foi às ruas protestar contra a guerra.

“Você participou da manifestação?”, diz o oficial. “Vi a manifestação na praça”, responde Gao, que é então alertado pelo interlocutor. “Como cidadãos chineses, não participamos de manifestações. Você não pode participar”.

Manifestações de Gao na internet também foram questionadas pela autoridade. Sobretudo posts que ele teria feito no Twitter. “Deixe-me dizer uma coisa: a internet é aberta. Só porque você está em um país estrangeiro não significa que a China não saiba o que você está fazendo”, diz o oficial na gravação. “Nós sabemos tudo, você entende?”.

Cidadão chinês na Holanda é obrigado a deixar o Twitter por pressão de Beijing
Twitter em fundo difuso, agosto de 2020 (Foto: Divulgação/Unsplash/ Joshua Hoehne)

Gao conta que deixou a China justamente devido à repressão do governo. Em julho do ano passado, ele diz que foi convocado a comparecer a uma delegacia de polícia, onde foi ameaçado e agredido por ter se manifestado contra o governo chinês na internet. desde então começou a pensar em fugir da China, o que acabou por levá-lo à Holanda.

“Sinto que o PCC (Partido Comunista Chinês) está me privando da minha liberdade mesmo aqui na Holanda”, disse ele, que relata o quanto a família tem sofrido com o episódio. “Minha avó teve pressão alta por causa disso, e minha mãe ficou deprimida por duas ou três semanas e passou cerca de três dias no hospital”.

Vivendo na Europa, o jovem chinês diz que passou a se posicionar de forma mais veemente contra o governo chinês. “[Eu até] pichei a embaixada chinesa com tinta para desabafar minha raiva”, disse ele. “Eu sabia que isso estava errado, fui à delegacia e me entreguei. Mas a polícia holandesa me disse que estava tudo bem”.

Depois das ameaças, ele optou por desativar a conta no Twitter, ao menos temporariamente. “Eu me sinto muito confuso e desamparado agora”, afirmou Gao.

Por que isso importa?

A censura chinesa, que regulamenta as mídias sociais do país e determina o que pode ou não ser objeto de debate nas redes, está calando usuários contrários ao conflito na Ucrânia, silenciando a opinião daqueles que protestam contra a ação militar russa.

Desde o início da incursão russa, no dia 24 de fevereiro, têm sido registrados em larga escala, nas plataformas locais WeiboWeChat TikTok, comentários pró-Moscou e favoráveis à decisão do presidente Vladimir Putin de atacar o vizinho. Já as publicações em repúdio à guerra ou em defesa da paz são rapidamente deletadas.

Nem celebridades são poupadas pelos censores. No início de março, Jin Xing, ex-apresentadora de um popular talk show e primeira celebridade transgênero da China, disse que sua conta no Weibo, o equivalente chinês ao Twitter, foi suspensa. A punição veio após ela ter publicado dois posts, um em que ela se referia a Putin como um “louco” e outro no qual incentivava seus seguidores a orar pela paz.

“Tudo o que eu disse foi que apoio a vida e me oponho à guerra. Eu não disse que apoio os EUA, a Rússia ou a Ucrânia. Que erro eu cometi?”, disse Jin, que tem 13,6 milhões seguidores.

Quem também teve a conta penalizada no Weibo foi a prestigiada atriz chinesa Ke Lan. Após ter curtido e compartilhado imagens e comentários que condenavam os combates no Leste Europeu, incluindo fotos de um protesto ocorrido em São Petersburgo, ela foi bloqueada e está impedida de fazer novas postagens. A justificativa dada pela plataforma foi “violação de regras e regulamentos relevantes”.

A plataforma WeChat , por sua vez, removeu postagens de historiadores proeminentes que tentaram organizar petições contra a guerra.

A televisão também sofreu impactos da censura. Durante discurso na abertura dos Jogos Paralímpicos de Inverno em Beijing, em março, o presidente do Comitê Paralímpico Internacional (IPC), Andrew Parsons, pediu paz, trecho que não foi traduzido pela emissora estatal chinesa CCTV.

Um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China alegou não estar ciente de publicações removidas ou contas suspensas. “O que posso dizer em termos de princípio é que a posição da China sobre a questão da Ucrânia é aberta, transparente e consistente”, disse.

controle estatal da informação que chega aos cidadãos chineses é parte do esforço da China para difundir a ideia de que é um mediador no conflito, ao mesmo tempo em que preserva o discurso de que a Rússia tem o direito de defender seus interesses.

A neutralidade chinesa já havia sido manifestada quando o governo local afirmou que não participará das sanções a Moscou e manterá relações normais com os dois países em guerra.

Em fevereiro, um post acidental publicado pela Horizon News, uma conta de mídia social ligada à Beijing News, jornal de propriedade do Partido Comunista Chinês (PCC), revelou que a censura da internet na China determinou às agências de notícias e administradores de contas em redes sociais que evitem críticas aos russos ou comentários favoráveis à Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte).

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