Os criminosos que atacaram um trem e sequestraram diversos passageiros na Nigéria, no dia 29 de março, divulgaram um vídeo no qual exibem o que seriam suas vítimas, mantidas em cativeiro desde então. As informações são da rede estatal turca TRT World.
No ataque, os agressores usaram bombas para parar um trem que seguia da capital nigeriana, Abuja, para a cidade de Kaduna, no norte do país. Depois, eles invadiram os vagões portando armas de fogo, mataram oito pessoas e sequestraram um número ainda incerto de passageiros.
O vídeo divulgado na segunda-feira (11) serve como indicativo da quantidade de pessoas raptadas, número que as autoridades até então não sabiam precisar. As imagens mostram homens e mulheres reunidos no que parece ser uma floresta, com uma fileira de indivíduos fortemente armados atrás deles.
New video release by #kidnappers on the #Abuja/#Kaduna train. #JusticeforAbiola #ImranKhan #EdoTwitter #KadunaTrainAttack pic.twitter.com/HwsaKqszce
— BAD LAWYER (@U_zaranda) April 10, 2022
“Somos os passageiros que deixaram Abuja para Kaduna na segunda-feira, 28 de março de 2022. Fomos sequestrados no caminho”, diz um homem no vídeo, falando no idioma hausa. “Desde então, somos apenas nós que sabemos a terrível situação em que estamos. Há mulheres e crianças, há idosos com problemas de saúde”.
Ao menos um dos passageiros que aparecem no vídeo foi identificado, o que sugere a autenticidade das imagens. Trata-se de Alwan Ali-Hassan, CEO do Banco de Agricultura da Nigéria, que também apareceu em um vídeo anterior dos sequestradores antes de ser libertado. De acordo com os criminosos, a soltura dele foi um gesto de boa vontade em função do Ramadã, o mês sagrado dos muçulmanos.
Embora a autoria do ataque não tenha sido confirmada oficialmente por fontes do governo nigeriano, ele possivelmente foi realizado por “bandidos“, nome popularmente atribuído a grupos armados sem vínculo ideológico que atuam sobretudo no norte e nordeste da Nigéria. São comuns os sequestros realizados por essas quadrilhas, que visam a receber o dinheiro do resgate.
Por que isso importa?
A violência que atinge o nordeste da Nigéria forçou dezenas de milhares de pessoas a deixarem suas casas e já começa a se expandir para a região central do país. Parte da população foge dos ataques dos “bandidos” e também da ação de grupos jihadistas, sobretudo o Boko Haram e o ISWAP (Estado Islâmico da África Ocidental).
Enquanto os jihadistas têm uma agenda ideológica muito clara, os “bandidos” agem somente por dinheiro. São principalmente jovens do grupo étnico Fulani que trabalharam como criadores de gado nômades e se envolveram em um conflito de décadas com comunidades agrícolas, na luta pelo acesso à água e às pastagens.
Os “bandidos” são os maiores responsáveis pelos sequestros de jovens em idade escolar, uma modalidade criminosa que tem crescido muito no país. O objetivo dos raptos é meramente financeiro, ou seja, receber o valor do resgate em troca da libertação das vítimas. As gangues também promovem invasões e saques em vilas.
Desde o início de 2022, o governo da Nigéria passou a classificar os “bandidos” como terroristas. “Acho que a única linguagem que eles entendem – nós discutimos exaustivamente com as agências de aplicação da lei, chefes de segurança, o inspetor-geral da polícia… – é irmos atrás deles”, disse o presidente Muhammadu Buhari. “Nós os rotulamos de terroristas. Vamos lidar com eles como tal”.
A violência no nordeste nigeriano aumentou nos últimos meses, e a OIM (Organização Internacional para as Migrações) estima que houve cerca de 50 mil deslocamentos internos no país desde janeiro de 2020. Adicionalmente, 80 mil pessoas rumaram ao vizinho Níger nos últimos dois anos, situação que as agências de apoio à população temem gerar uma nova crise humanitária.
No Brasil
Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.
Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.
Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.
Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.
Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.
“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.
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