A China solicitou ao governo das Ilhas Salomão autorização para enviar ao país insular uma equipe de dez agentes de segurança à paisana e fortemente armados em dezembro de 202, com o objetivo de usá-los para garantir a segurança da embaixada chinesa em Honiara. As informações são do jornal britânico Guardian.
A informação consta de um documento datado do dia 3 de dezembro, período em que as ilhas Salomão viviam grande agitação social devido a violentas manifestações populares reivindicando a queda do primeiro-ministro Manasseh Sogavare. Os agentes chineses seriam enviados ao país vizinho armados de pistolas, rifles, metralhadoras e um rifle de precisão, portando passaportes diplomáticos e com o status de “Adidos da Missão Chinesa”.
“O governo da República Popular da China decidiu enviar uma equipe de segurança à paisana (dez pessoas) com armas leves e equipamentos necessários à Embaixada da China nas Ilhas Salomão. A equipe será responsável pela segurança interna e pelas missões de escolta necessárias fora da Embaixada da China”, diz o texto.
Em outro documento, este enviado pelo governo salomonense, o secretário das Relações Exteriores da ilha, Collin Beck, afirmou “não ter objeções” à solicitação, vez que o próprio país não teria condições de assegurar plenamente a segurança do corpo diplomático chinês em meio aos protestos.
“Meu Ministério, durante o período [de protestos], não conseguiu garantir a segurança da Embaixada e dos funcionários. Como país anfitrião, tínhamos a obrigação de proteger todas as embaixadas, incluindo a Embaixada da China. Nesse sentido, não temos objeções ao pedido”, escreveu Beck no memorando.
Em meio à tensão do final do ano passado, dezenas de prédios foram queimados no bairro de Chinatown de Honiara, a capital do país, e lojas foram saqueadas em meio à violenta manifestação popular, após Sogavare se recusar a negociar com os opositores. Comerciantes chineses eram os principais dos manifestantes.
Honiara conformou a veracidade dos documentos e disse que “não há nada com que se preocupar”.
Acordo de segurança
A revelação surge cerca de duas semanas após o premiê salomonense Manasseh Sogavare confirmar um acordo de segurança com a China. O anúncio disparou o alarme na vizinha Austrália e em outros aliados ocidentais no Indo-Pacífico e colocou a pequena nação insular no olho do furacão de um debate tenso sobre o futuro da região.
Mais recentemente, uma carta de intenções vazada indicou que a China tem planos de estabelecer uma base militar nas Ilhas Salomão, projeto frequentemente desmentido por Beijing.
No documento, uma empresa chinesa de engenharia “demonstra nossa intenção de estudar a oportunidade de desenvolver projetos navais e de infraestrutura em terrenos arrendados para a Marinha do Exército de Libertação Popular, para a Província de Isobel, com direitos exclusivos por 75 anos”.
Por que isso importa?
As Ilhas Salomão vivem um período de intensa agitação social, que especialistas associam a questões étnicas e históricas, à corrupção estatal e ao movimento do governo para estreitar laços com a China.
Com população de cerca de 700 mil pessoas, a nação insular fica localizada em território estratégico, bem no centro de um cabo de guerra geopolítico. O país tem se aproximado de Beijing desde 2019, quando mudou o reconhecimento diplomático de Taiwan para a China, sublinhando a crescente influência chinesa em uma região que era tradicionalmente dominada por EUA e Austrália.
Para James Batley, um ex-alto comissário australiano para as Ilhas Salomão e especialista em assuntos sobre Ásia-Pacífico da Universidade Nacional Australiana, o desagrado da população em relação à aproximação com a China serviu como gatilho para a desordem popular que explodiu em novembro de 2021.
“Não é política externa em si, mas acho que essa mudança diplomática alimentou as queixas pré-existentes e, em particular, a sensação de que os chineses interferiram na política nas Ilhas Salomão, que o dinheiro chinês de alguma forma fomentou a corrupção, distorceu a forma como a política funciona nas Ilhas Salomão”, disse Batley.
A relação comercial com a China é considerada particularmente predatória pela população local. Mais da metade de todos os frutos do mar, madeira e minerais extraídos do Pacífico em 2019 foi para a China. A estimativa é de que esse processo tenha movimentado US$ 3,3 bilhões, apontou uma análise de dados comerciais do jornal britânico The Guardian.
Para alimentar e gerenciar a população de quase 1,4 bilhão de habitantes, a China tirou do Pacífico mais recursos do que os dez países da região juntos. Nas Ilhas Salomão e em Papua Nova Guiné, por exemplo, mais de 90% do total de madeira exportada foi para os chineses.
Os dados não levam em consideração as exportações ilícitas. Nas Ilhas Salomão, pelo menos 70% das toras são exportadas de madeira ilegal. A falta de leis na China contra esse tipo de importação absorvem o envio devido à alta demanda e proximidade com a região.
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