Mensagens de rádio interceptadas pela inteligência da Alemanha mostram soldados da Rússia discutindo as execuções sumárias de militares e civis ucranianos durante a guerra. A informação foi confirmada por pessoas com conhecimento dos fatos, e as evidências foram apresentadas a parlamentares em Berlim na quarta-feira (6). A revelação foi feita em primeira mão pela revista alemã Der Spiegel.
Além dos áudios, o governo alemão alega ter imagens de satélite que confirmam o envolvimento de tropas russas nas mortes em Bucha, cujas ruas tinham dezenas de corpos quando a cidade retornou ao controle de Kiev, após a retirada do exército da Rússia.
Entretanto, as conversas de rádio não são necessariamente provenientes de Bucha, segundo o jornal britânico Guardian. A identificação dos locais em que os áudios foram feitos não é simples, mas indícios apontam principalmente para Mairupol, cidade portuária destruída por Moscou.
Em um áudio, dois soldados discutem a morte de um civil de bicicleta, caso que pode estar associado a imagens que têm circulado na internet. Há um vídeo que mostra um ciclista possivelmente sendo morto por tanques russos em Bucha, além de fotos de ao menos um corpo ao lado de um bicicleta. Em outro áudio, um militar russo fala para o outro: “Primeiro você questiona o soldado, depois atira nele”.
De acordo com especialistas forenses que analisaram os corpos em Bucha, “quase 90% foram mortos por balas, não estilhaços”. Somando-se essa informação à evidência apresentada pelos áudios, a inteligência alemã diz que crescem as suspeitas de que as mortes de civis em toda a guerra, mesmo a de muitos militares ucranianos, não se devem a ações isoladas de determinados soldados russos, e sim de um padrão das tropas invasoras.
Mercenários russos
Duas pessoas com conhecimento dos fatos dizem que integrantes do Wagner Group, uma organização privada paramilitar frequentemente associada ao Kremlin, também têm participação em ataques a civis e militares ucranianos durante o conflito. Um episódio ocorrido no Mali é usado para embasar essa teoria.
O governo malinês diz que uma operação de contraterrorismo matou cerca de 200 extremistas no país africano no final de março. Entretanto, organizações humanitárias alegam que há muitos civis inocentes entre as vítimas, e uma fonte com conhecimento dos fatos diz que o episódio tem “todas as características do modus operandi do exército russo”.
No Mali, o Wagner Group firmou um acordo com o governo local para colaborar com as forças armadas. Isso gerou protestos de Paris e contribuiu para a retirada das tropas francesas que atuavam no combate ao extremismo no país africano.
O Massacre de Bucha
Os corpos de dezenas de pessoas foram encontrados nas ruas da cidade ucraniana de Bucha quando as tropas locais reconquistaram a área, três dias após a retirada do exército russo. As imagens dos mortos foram divulgadas pela primeira vez no dia 2 de abril, por agências de notícias, e chocaram o mundo.
As fotos mostram pessoas mortas com as mãos amarradas atrás do corpo, um indício de execução. Outros corpos aparecem parcialmente enterrados, com algumas partes à mostra. Há também muitos corpos em valas comuns. Nenhum dos mortos usava uniforme militar, sugerindo que as vítimas são civis.
“O massacre de Bucha prova que o ódio russo aos ucranianos está além de qualquer coisa que a Europa tenha visto desde a Segunda Guerra Mundial”, disse ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, em sua conta no Twitter.
Após a divulgação das cenas chocantes, o presidente norte-americano Joe Biden pediu mais uma vez que Vladimir Putin seja julgado por crimes de guerra. “Vocês devem lembrar que fui criticado por chamar Putin de criminoso de guerra”, disse o líder norte-americano. “Bem, a verdade é que você viu o que aconteceu em Bucha. Isso garante: ele é um criminoso de guerra. Mas temos que reunir as provas”.
Moscou, por sua vez, nega as acusações. Através do aplicativo russo de mensagens Telegram, o Ministério da Defesa russo disse que, “durante o tempo em que a cidade esteve sob o controle das forças armadas russas, nenhum morador local sofreu qualquer ação violenta”. O texto classifica as denúncias como “outra farsa, uma produção encenada e provocação do regime de Kiev para a mídia ocidental, como foi o caso em Mariupol com a maternidade“.
Entretanto, imagens de satélite da empresa especializada Maxar Technologies derrubam o argumento da Rússia. O jornal The New York Times realizou uma investigação com base nessas imagens e constatou que objetos de tamanho compatível com um corpo humano aparecem na rua Yablonska entre 9 e 11 de março. Eles estão exatamente nas mesmas posições em que foram descobertos os corpos quando da chegada das tropas ucranianas, conforme vídeo feito por um residente da cidade em 1º de abril.
Os mortos de Putin
Desde que assumiu o poder na Rússia, em 1999, o presidente Vladimir Putin esteve envolvido, direta ou indiretamente, ou é forte suspeito de ter relação com inúmeros eventos, que levaram a dezenas de milhares de mortes. A lista de vítimas do líder russo tem soldados, civis, dissidentes e até crianças. E vai aumentar bastante com a guerra que ele provocou na Ucrânia
Na conta dos mortos de Putin entram a guerra devastadora na região do Cáucaso, ações fatais de suas forças especiais que resultaram em baixas civis até dentro do território russo, a queda suspeita de um avião comercial e, em 2022, a invasão à Ucrânia que colocou o mundo em alerta.
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