Enquanto congressistas norte-americanos recém haviam sido recepcionados em Taiwan, na sexta-feira (15), para uma visita diplomática com vistas a estreitar os laços com a ilha semiautônoma, forças chinesas davam início a um grande exercício militar às portas do território taiwanês. As informações são da Radio Free Asia.
Horas após a chegada da comitiva formada por seis políticos de Washington, aeronaves, navios de guerra e tropas chinesas participaram de simulações de combate no Mar da China Oriental, tanto em água quanto no espaço aéreo ao redor de Taiwan, relatou o coronel Shi Yi, porta-voz do Exército de Libertação Popular (ELP).
O contingente de tropas e armamentos utilizados não foi divulgado. Porém, o exército taiwanês contabilizou seis aeronaves chinesas dentro da sua Zona de Identificação de Defesa Aérea (ADIZ, da sigla em inglês), incluindo quatro caças J-16 e dois caças J-11.
Em nota oficial, o ELP disse que os exercícios foram conduzidos sob a justificativa de dar uma “resposta aos recentes sinais errados que os EUA enviaram relacionados à questão de Taiwan”. Os caças sobrevoaram o Canal Bashi, ao sul da ilha.
“Os truques perversos dos EUA são completamente fúteis e muito perigosos”, disse o comunicado, que manteve tom de ameaça: “aqueles que brincam com fogo vão se incendiar”.
A reação do Ministério da Defesa Nacional de Taiwan foi o envio de navios e aviões ao local, de forma a monitorar a movimentação chinesa através do Estreito e “salvaguardar a segurança em nosso espaço aéreo e águas territoriais”, detalhou a pasta governamental.
Visita ‘delicada’
A delegação norte-americana, formada tanto por republicanos quanto democratas, chegou a Taipé na noite de quinta-feira (14). O grupo foi capitaneado pelo senador republicano Lindsey Graham, membro do Comitê de Orçamento do Senado. Quem também esteve presente foi o senador democrata Bob Menendez, presidente do Comitê de Relações Exteriores do Senado.
Os congressistas foram recebidos na sexta pela presidente Tsai Ing-wen. Durante o encontro, os legisladores manifestaram apoio à democracia da ilha. Menendez descreveu Taiwan como um “país de importância global”, acrescentando que a sua segurança tem “implicações para o mundo”.
Visitas como essa são consideradas delicadas porque Washington e Taiwan não têm relações diplomáticas formais, embora os EUA estejam comprometidos por lei a ajudar a fornecer à ilha subsídios para se defender.
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Zhao Lijian, declarou em coletiva de imprensa em Beijing na sexta que o país “se opõe firmemente a qualquer forma de interação oficial entre os EUA e a região de Taiwan”. Ele confirmou que os exercícios militares foram uma resposta à visita dos legisladores.
Já o Ministério das Relações Exteriores de Taiwan, em resposta aos exercícios chineses, disse que “a ameaça de força só fortalecerá a vontade do povo taiwanês de defender a liberdade e a democracia”.
Pelo Twitter, o órgão governamental também celebrou a visita. “É ótimo saber que, no momento em que a Ucrânia está revidando, bons amigos estão transmitindo uma mensagem clara: Taiwan não está sozinha”.
A welcome banquet was hosted by Minister Wu for the senior congressional delegation led by @LindseyGrahamSC at historic Taipei Guest House. Spirits were high as guests reflected on the enduring #Taiwan-#US relationship & rock-solid bonds shared by our freedom- & … (1/2) pic.twitter.com/L5vpoj53zc
— 外交部 Ministry of Foreign Affairs, ROC (Taiwan) (@MOFA_Taiwan) April 15, 2022
Por que isso importa?
Taiwan é uma questão territorial sensível para os chineses. Nações estrangeiras que tratem a ilha como autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio defendido de “Uma Só China“, que também encara Hong Kong como parte do território chinês. Diante da aproximação entre Taipé e Washington, desde 2020 a China endureceu a retórica contra as reivindicações de independência da ilha.
Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos países do mundo, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal fornecedor de armas do território, o que causa imenso desgosto a Beijing, que tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação.
Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que a China não aceitará a independência do território “sem uma guerra“.
O embate, porém, pode não terminar em confronto militar, e sim em um bloqueio total da ilha. É o que apontaram relatórios produzidos pelos EUA e por Taiwan em junho de 2021. O documento taiwanês pontua que Beijing não teria capacidade de lançar uma invasão em grande escala, justamente por se tratar de uma ilha. Já segundo o Pentágono, isso “provavelmente sobrecarregaria as forças armadas chinesas”.
Caso ocorresse, a escalada militar criaria um “risco político e militar significativo” para Beijing. Ainda assim, ambos os relatórios reconhecem que a China é capaz de bloquear Taiwan com cortes dos tráfegos aéreo e naval e das redes de informação. O bloqueio sufocaria a ilha, criando uma reação internacional semelhante àquela que seria causada por uma eventual ação militar.
Em artigo publicado em novembro, Michael Beckley e Hal Brands alertaram que o tempo está se esgotando para frear o ímpeto belicista chinês. “Os sinais de alerta históricos da China já estão piscando em vermelho. Na verdade, ter uma visão de longo prazo de por que e sob quais circunstâncias a China luta é a chave para entender o quão curto o tempo se tornou para os Estados Unidos e os outros países no caminho de Beijing”.
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