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quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

Órgão regulador russo censura denúncias de corrupção que citam palácio bilionário de Putin

O Roskomnadzor, órgão regulador da mídia na Rússia, determinou na segunda-feira (31) que fossem apagadas dezenas de matéria jornalísticas reproduzindo denúncias de corrupção no governo Putin feitas pela equipe do oposicionista Alexei Navalny. Entre elas, destaca-se o caso de um suposto palácio avaliado em US$ 1,3 bilhão que pertenceria ao presidente russo, segundo o site independente The Moscow Times.

As denúncias da equipe de Navalny contra os líderes russos começaram em 2017, feitas através da FBK, a fundação anticorrupção do oposicionista. Elas abrangem casos de corrupção desde o governo do então primeiro-ministro Dmitry Medvedev até casos recentes, de legisladores russos donos de propriedades cujos valores seriam incompatíveis com seus rendimentos.

Imagem da fachada do que seria o palácio de US$ 1,3 bilhão de Putin (Foto: fbk.info)

A principal investigação da FBK revelou que o presidente Vladimir Putin seria o proprietário de um “palácio” avaliado em US$ 1,3 bilhão. A megaconstrução teria, entre outros caprichos, uma pista de patinação no gelo e uma sala de pole dance. Embora a denúncia tenha partido da FBK, em janeiro do ano passado, outros veículos de imprensa independentes fizeram suas próprias investigações e confirmaram as acusações.

Como parte do material da FBK que denuncia o suborno, Navalny publicou também um vídeo em seu canal no YouTube. A reportagem tem 1h23, é narrada em inglês e tem mais de 140 mil visualizações desde que foi ao ar, no dia 4 de fevereiro de 2021. Veja o vídeo abaixo:

Após a divulgação do material pela FKB, apenas dois dias depois de Navalny ter sido preso em Moscou, em janeiro de 2021, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov veio a público negar as denúncias: “Estas são todas declarações absolutamente infundadas. Isso é pura bobagem e uma compilação, e não há mais nada lá”, disse ele, segundo o site Business Insider.

Ao exigir que todo conteúdo fosse excluído, o Roskomnadzor alegou que o material foi originalmente publicado por uma “organização extremista“, como a FBK foi classificada pelo governo russo em agosto de 2021. São cerca de 80 artigos publicados por veículos como a rádio Ekho Moskvy, os sites Meduza.io, Znak.com e Svobodnyie Novosti e a emissora independente Dozhd.

Movimento de censura semelhante aconteceu em dezembro do ano passado, quando veículos de mídia receberam ordens para apagar reportagens que faziam referência a uma suposta filha de Putin, fruto de uma relação extraconjugal.

Por que isso importa?

Organizações não-governamentais, veículos de imprensa e os colaboradores de ambos têm sido alvo de uma dura repressão do governo Putin, com o respaldo da Justiça do país. A perseguição se escora na “lei do agente estrangeiro”, que foi aprovada em 2012 e modificada diversas vezes, dando às autoridades o poder de acessar todas as informações privadas das instituições e indivíduos listados como “agentes estrangeiros”.

A designação também carrega conotações negativas da era soviética e serve para rotular o que seriam organizações envolvidas em atividades políticas financiadas pelo exterior. A classificação acaba por afastar potenciais parceiros comerciais e anunciantes, muitas vezes sufocando financeiramente as instituições rotuladas.

Órgãos e indivíduos listados e que não atendam às exigências impostas pela lei podem pegar pena de até dois anos de prisão, de acordo com o código penal russo, e as organizações correm o risco de serem proibidas de funcionar. Tal sistema repressivo tem sido a principal arma do Kremlin para calar os críticos, levando a ordens de prisão, casos de exílio forçado e ao fechamento de entidades.

Muitos jornalistas ligados ao oposicionista Alexei Navalny, atualmente preso em Moscou, tiveram suas casas invadidas pela polícia sob ordens de busca e apreensão e também foram adicionados à lista de “agentes estrangeiros”. O advogado Ivan Pavlov foi o mais recente partidário de Navalny a deixar a Rússia em consequência da repressão do Estado escorada na legislação.

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