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terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

Proibida de ir à corte, mulher de Navalny diz que julgamento do marido é ‘ilegal e vergonhoso’

Yulia Navalnaya, mulher do oposicionista russo Alexei Navalny, preso em Moscou desde janeiro de 2021, classificou como “ilegal e vergonhoso” o julgamento do marido que acontecerá nesta quarta-feira (15), dentro da colônia penal na qual ele está detido. As informações são da rede Radio Free Europe.

Nesta terça (14), Yulia fez um longo post no Instagram contestando o julgamento a portas fechadas. “É tão patético que eles tenham medo de realizar o julgamento em Moscou. Afinal, todos entendem perfeitamente como Alexei esmagará a acusação no tribunal e sabem que ele rirá deste julgamento”, disse ela.

Na semana passada, o tribunal distrital de Lefortovo, na região de Moscou, disse que seus juízes viajarão para a colônia penal onde Navalny está detido, na região de Vladimir, para ali realizar o julgamento. As acusações que pesam contra o maior rival político do presidente Vladimir Putin são de peculato, dentro da extinta Fundação Anticorrupção (FBK) que ele comandava, e de desacato a um tribunal moscovita.

O oposicionista é acusado de se apropriar de cerca de US$ 4,7 milhões em doações que haviam sido destinadas à FBK. Já o desacato teria ocorrido durante uma de suas audiências no ano passado. Navalny diz que as acusações têm teor meramente político, pelo fato de ele denunciar a corrupção no governo Putin.

De acordo com Olga Mikhailova, advogada que defenderá Navalny, o fato de o julgamento ocorrer dentro da prisão “afetará seriamente” o direito de ele se defender das acusações. Se condenado, o rival de Putin pode pegar até dez anos de prisão.

“A colônia é uma área restrita e é absolutamente proibido trazer telefones, computadores e outros aparelhos. Portanto, não entendo como o julgamento irá prosseguir”, disse Mikhailova.

O oposicionista Alexei Navalny e a mulher dele, Yulia Navalnaya (Foto: reprodução/Instagram)

Por que isso importa?

Navalny ganhou destaque ao organizar manifestações e concorrer a cargos públicos na Rússia. A principal plataforma do oposicionista é o combate à corrupção no governo de Vladimir Putin, em virtude da qual ele uma cobra profunda reforma na estrutura política do país.

Em agosto de 2020, durante viagem à Sibéria, Navalny foi envenenado e passou meses se recuperando em Berlim. Ele voltou a Moscou em 17 de janeiro de 2021 e foi detido ainda no aeroporto. Um mês depois, foi julgado e condenado a dois anos e meio de prisão por violar uma sentença suspensa de 2014, sob acusação de fraude. Promotores alegaram que ele não se apresentou regularmente à polícia em 2020, justamente quando estava em coma pela dose tóxica.

Encarcerado em uma colônia penal de alta segurança, ele chegou a fazer uma greve de fome de 23 dias em abril de 2021, para protestar contra a falta de atendimento médico. Depois, em junho, um tribunal russo proibiu os escritórios regionais de Navalny e sua fundação, a FBK, de funcionarem, classificando-as como “extremistas”.

Em agosto do ano passado, a Justiça russa abriu uma nova acusação criminal contra o oposicionista, o que poder ampliar a sentença de prisão dele em três anos. Ele foi acusado de “incentivar cidadãos a cometerem atos ilegais”, por meio da FBK que ele criou.

Já em setembro de 2021, uma terceira acusação, por “extremismo”, ameaça estender o encarceramento por até uma década, sendo mantido sob custódia no mínimo até o fim da próxima eleição presidencial, em 2024, quando chega ao fim o atual mandato de seis anos de Vladimir Putin no Kremlin.

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