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quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

Líbano prende terroristas e frustra planos do Estado Islâmico para atacar Beirute

O governo do Líbano, através do Ministro do Interior Bassam Mawlawi, anunciou na quarta-feira (23) ter frustrado os planos do Estado Islâmico (EI) de realizar uma série de ataques a bomba em Beirute. As informações são do jornal saudita Arab News.

“Uma rede terrorista de cidadãos palestinos que recrutava jovens para realizar grandes operações com cintos explosivos e mísseis que poderiam ter causado muitas vítimas foi desmantelada”, disse Mawlawi, citando operações das forças de segurança nacionais realizadas em três locais da zona sul de Beirute.

Os três locais onde ocorreram a operação antiterrorismo foram o Complexo Al-Kazem, no bairro de Madi, e o Complexo Lailaki e Hussainiyat Al-Nasser, em Ouzai. A região tem forte presença do Hezbollah, grupo islâmico xiita local que também combate o EI.

Líbano prende terroristas e frustra planos do Estado Islâmico para atacar Beirute
O centro de Beirute poucos dias após a explosão do porto, em 8 de agosto de 2020 (Foto: OCHA)

Operação de inteligência

A prisão dos terroristas compreendeu um trabalho de inteligência que veio desde o início de 2021, quando uma fonte da inteligência libanesa, apelidado Abu Khutab, manteve os primeiros contatos com um terrorista do Ei chamado Assad Al-Chamy, estabelecido na Síria.

“Al-Chamy perguntou a Abu Khutab sobre sua prontidão para realizar um ataque suicida, dada sua experiência com o uso de armas leves e capacidade de dirigir, e a fonte foi instruída a concordar”, diz um comunicado publicado pelas forças de segurança do Líbano, que relata toda a investigação.

Em maio do ano passado, Khutab recebeu um colete explosivo de um indivíduo chamado Abu Jafaar, que também forneceu 500 mil libras libanesas (R$ 1,6 mil) e uma granada de mão. Os dois mantiveram contato até o final do ano passado, quando o informante da inteligência libanesa recebeu outros três coletes, mais duas granadas de mão e 1,9 milhão de libras libanesas (R$ 6,2 mil).

Entre os dias 7 e 11 de fevereiro deste ano, os afiliados do EI entraram e m contato com Khutab e determinaram que três ataques simultâneos fossem realizados em Beirute. No dia 17, o informante agendou um encontro com Al-Chamy, com o objetivo de entregar três rifles russos Kalashnikov, quatro granadas de mão e 1,5 milhão de libras libanesas (R$ 4,9 mil). Então, uma operação policial prendeu Al-Chamy e outros quatro extremistas no momento em que as armas seriam entregues.

Por que isso importa?

Nos últimos anos, o EI se enfraqueceu financeira e militarmente. Em 2017, o exército iraquiano anunciou ter derrotado a organização no país, com a retomada de todos os territórios que ela dominava desde 2014. O grupo, que chegou a controlar um terço do Iraque, hoje mantém apenas células adormecidas que lançam ataques esporádicos, quase sempre focados em agentes do governo. Já as FDS (Forças Democráticas Sírias), uma milícia curda apoiada pelos EUA, anunciaram em 2019 o fim do “califado” criado pela organização extremista na Síria.

Em janeiro deste ano, o grupo sofreu mais um duro golpe quando o exército norte-americano anunciou ter matado Amir Muhammad Sa’id Abdal-Rahman al-Mawla, principal líder da facção. Durante uma operação antiterrorismo dos EUA na Síria, ele explodiu uma bomba que carregava junto ao corpo, matando também mulheres e crianças que o acompanhavam. O evento foi semelhante a outro, em 2019, que terminou com a morte do líder anterior da organização extremista, Abu Bakr al-Baghdadi.

De acordo com um relatório do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) publicado em fevereiro de 2022, as perdas territoriais e de pessoal transformaram o EI, que antes controlava boas partes da Síria e do Iraque, em “uma insurgência principalmente rural, resistindo à pressão antiterrorista sustentada pelas forças da região”.

A pandemia também continua a ser um desafio, pois impede as “viagens transfronteiriças, diminuindo as ameaças decorrentes de fluxos de combatentes em zonas de conflito e viagens terroristas mais amplas em zonas de não conflito”. Por outro lado, a estagnação do terrorismo em meio à onda de Covid-19 aumenta as “oportunidades de recrutamento e radicalização online”, criando a perspectiva de uma retomada futura das ações extremistas globais.

Outro risco que o grupo oferece é a presença de milhares de ex-combatentes em prisões e campos de deslocados em várias partes do mundo. Devolvê-los a seus países de origem e processá-los judicialmente é um desafio para os Estados-Membros da ONU, e os estabelecimentos que abrigam os extremistas são um potencial alvo de ataques para o EI. Exatamente como ocorreu na prisão de Ghwayran, na cidade de al-Hasakah, na Síria, invadida pelo grupo com a meta de libertar seguidores.

“Devido à capacidade severamente degradada, a sobrevivência futura do EI depende de sua capacidade de reabastecer as fileiras por meio de tentativas mal concebidas, como o ataque a Hasakah”, afirmou o major-general norte-americano John W. Brennan Jr., comandante da força de coalização liderada pelos EUA para combater o EI. Segundo ele, a ação na prisão síria gerou enorme prejuízo ao grupo terrorista, que “sentenciou à morte muitos dos seus que participaram deste ataque”.

Atualmente, o principal reduto do EI é o continente africano, onde consegue se manter relevante graças ao recrutamento online e à ação de grupos afiliados regionais. A expansão do grupo em muitas regiões da África desde o início de 2021 é alarmante e pode marcar sua retomada de força. No Sudeste Asiático, ao contrário, os países da região têm obtido sucesso significativo em interromper o terrorismo de facções afiliadas.

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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