Na semana passada, durante operação das forças especiais dos EUA, Abu Ibrahim al-Hashimi al-Qurashi, líder do Estado Islâmico (EI), morreu ao detonar uma bomba que carregava junto ao corpo, matando também mulheres e crianças. A morte, anunciada pelo presidente Joe Biden, enfraqueceu ainda mais o EI e caracterizou-se como uma importante vitória na luta contra grupos jihadistas. Mas a lista de terroristas internacionais islâmicos à solta ainda é grande, e a guerra ao terror está longe de ser vencida. Conheça alguns dos mais procurados extremistas islâmicos do mundo, com informações do site AL-Monitor.
Ayman al-Zawahiri
É o atual líder da Al-Qaeda. Nascido em uma proeminente família egípcia, al-Zawahiri criou a Jihad Islâmica Egípcia e mais tarde a fundiu com a Al-Qaeda. Médico pessoal de Osama bin Laden e conselheiro do famoso terrorista até 2011, ele hoje está cercado de mistério.
Em 2020, boatos sobre a morte de al-Zawahiri circularam na internet, mas a informação não foi confirmada pela Al-Qaeda. Em 2021, diversos indícios apontaram no sentido oposto, dando a entender que o extremista ainda estivesse vivo, embora não fosse possível afirmar isso categoricamente.
Em novembro do ano passado, um vídeo publicado pelo canal de mídia oficial da Al-Qaeda reforçou os indícios de que o principal líder da organização não morreu. Na gravação, o jihadista criticava a ONU (Organização das Nações Unidas) pelo tratamento dispensado aos muçulmanos e às nações islâmicas.
Relatório do Conselho de Segurança da ONU, publicado na semana passada, reforça a ideia de que ele estava vivo ao menos até em janeiro de 2021. Mas faz um adendo: “os Estados-Membros continuam a acreditar que está com problemas de saúde”.
O Departamento de Estado dos EUA oferece uma recompensa de US$ 25 milhões por informações sobre al-Zawahiri, acusado de planejar o atentado contra o contratorpedeiro USS Cole, da marinha dos EUA, no Iêmen, que matou 17 marinheiros em outubro de 2000. Foi acusado também de coordenar os atentados a bomba nas embaixadas dos EUA no Quênia e na Tanzânia, que mataram 224 pessoas em 1998. Acredita-se que tenha ajudado a coordenar os ataques de 11 de setembro.
Abu Mohammed al-Golani
Ele lidera o grupo extremista Hayat Tahrir Al-Sham (HTS), originalmente uma facção da Al-Qaeda e que atualmente controla grande parte da província de Idlib, no noroeste da Síria. Diferente de outros extremistas procurados internacionalmente, ele não tem mostrado preocupação em expor sua localização, sujeitando-se assim a um eventual ataque de drone.
O HTS, anteriormente conhecido como Jabhat a-Nusra, tem trabalhado para se aproximar do Ocidente, aproveitando o fato de que é inimigo do governo sírio, este apoiado por Rússia e Irã. Embora diga que desfez o vínculo com a Al-Qaeda, o HTS é considerado ele mesmo um grupo terrorista pelo Conselho de Segurança da ONU e pelos EUA, que oferecem uma recompensa de US$ 10 milhões pela captura de al-Golani.
No dia 7 de janeiro deste ano, al-Golani apareceu vestindo roupas ocidentais em evento público na cidade de Sarmada, na Síria. Ele já havia feito uma aparição em maio de 2020, ao visitar um acampamento no qual ouviu pedidos de moradores. Depois, em agosto de 2020, visitou um restaurante na cidade de Idlib e foi fotografado conversando com civis e ajudando a preparar a comida.
Khalid al-Batarfi
É o emir da Al-Qaeda na Península Arábica desde fevereiro de 2020, função que assumiu após a morte do ex-líder do grupo iemenita, Qasim al-Rimi, em um ataque aéreo dos EUA. O Departamento de Estado norte-americano, através do seu programa Rewards for Justice (Recompensas da Justiça, em tradução literal) oferece até US$ 5 milhões a quem fornecer informações sobre o paradeiro dele.
Al-Batarfi tem nacionalidade saudita e se juntou à Al-Qaeda há mais de 20 anos. As primeiras ações foram no Afeganistão, em 1999, pouco antes de atuar com o Taleban durante a invasão norte-americana ao país. Ele está desde 2010 no Iêmen, onde comandou a invasão da província de Abyan, no sul.
O jihadista chegou a ser preso e passou quatro anos encarcerado, até que um destacamento da Al-Qaeda invadiu a cidade de Al Mukalla e o libertou junto com outros combatentes, em 2016. Ex-juiz religioso e ex-porta-voz da Al-Qaeda, ele gravou um vídeo em 2018 no qual pedia violência contra judeus e norte-americanos. Também é acusado de orquestrar o ataque a uma base militar dos EUA na Flórida, em dezembro de 2019, que terminou com a morte de cinco marinheiros.
Em fevereiro de 2021, um relatório da ONU (Organização das Nações Unidas) informou que o terrorista estava preso desde outubro de 2020. A detenção teria ocorrido em uma operação que terminou com a morte de Saad Atef al-Awlaki, outro combatente da alta cúpula da Al-Qaeda no Iêmen. A prisão de Batarfi, porém, foi desmentida pelo grupo jihadistas em abril do ano passado.
Sanaullah Ghafari
Também conhecido como Shahab al-Muhajir, ele é líder do Estado Islâmico-Khorasan (EI-K), facção do grupo terrorista no Afeganistão e principal inimigo doméstico do Taleban. Descrito como “líder militar e um dos ‘leões urbanos’ do EI-K em Cabul”, Ghafari está envolvido em operações de guerrilha e no planejamento de ataques suicidas.
Pouco se sabe sobre a origem do terrorista, apenas que nasceu em 1994, no Afeganistão. É atualmente responsável por aprovar todas as operações do EI-K e providenciar financiamento para que sejam realizadas. Há uma recompensa de até US$ 10 milhões para quem fornecer informações que ajudem a identificar ou capturar o terrorista.
Salim Jamil Ayyash
É um agente de alto escalão do Hezbollah e desempenhou papel fundamental no assassinato em 2005 do ex-primeiro-ministro do Líbano Rafik Hariri. Segundo o Departamento de Estado, Ayyash é uma figura sênior na Unidade 121, o esquadrão da morte diretamente subordinado ao líder do grupo, Hassan Nasrallah.
Em 2020, um tribunal internacional condenou Ayyash à revelia por terrorismo e homicídio, por seu papel no ataque realizado por uma caminhão-bomba que matou Hariri e outras 21 pessoas. O Rewards for Justice oferece até US$ 10 milhões por informações que levem ao terrorista.
Abd al-Rahman al-Maghrebi
Também conhecido como Muhammad Abbatay, é uma importante figura da Al-Qaeda e que, segundo o governo dos EUA, vive atualmente no Irã. O terrorista, marroquino de nascimento, é genro de al-Zawahiri e descrito como diretor de longa data do al-Shahab, o braço de mídia da Al-Qaeda.
O Departamento de Estado dos EUA chegou a classificar al-Maghrebi como o integrante “mais perigoso” da Al-Qaeda. Em um dos documentos recuperados pelos EUA na operação que matou Osama bin Laden, em março de 2011, ele é citado como sendo uma “estrela em ascensão” dentro da organização terrorista.
Al-Maghrebi também seria o chefe do “Escritório de Comunicações Externas” da Al-Qaeda, através do qual coordena atividades com afiliados da organização. Ele teria assumido a liderança do grupo no Afeganistão e no Paquistão em 2012. O Departamento de Estado dos EUA oferece US$ 7 milhões por informações que leve ao paradeiro dele.
Ibrahim al-Banna
Também conhecido como Abu Ayman al-Masri, é um líder sênior e membro fundador da Al-Qaeda. O Departamento de Estado afirma que ele atuou como chefe de segurança do grupo e forneceu orientação militar e de segurança à cúpula da facção.
Em um artigo de 2010 para a revista online em inglês da Al-Qaeda, al-Banna descreveu os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos como “virtuosos” e ameaçou atingir americanos em todo o mundo em resposta às ações dos EUA no exterior.
O Rewards for Justice oferece uma recompensa de até US$ 5 milhões por informações sobre al-Banna.
Por que isso importa?
Ações antiterrorismo globais têm enfraquecido os dois principais grupos terroristas do mundo, o EI e a Al-Qaeda. Já a pandemia de Covid-19 fez cair o número de ataques em regiões sem conflito, devido a fatores como as limitações impostas às viagens internacionais e a redução do número de pessoas em áreas públicas.
Na tentativa de manter a relevância, as organizações jihadistas têm investido em zonas de conflito, como o continente africano, e isso pode causar um impacto a curto prazo na segurança global, conforme as regras de restrição à circulação são afrouxadas.
O EI, em particular, se enfraqueceu militar e financeiramente, vitimado pela má gestão de fundos por parte de seus líderes e sufocado pelas sanções econômicas internacionais. Porém, a organização ganhou sobrevida graças ao poder de recrutar seguidores online. Atualmente, as ações do EI são empreendidas quase sempre por atores solitários ou pequenos grupos que foram radicalizados e incitados através da internet.
Em 2017, o exército iraquiano anunciou ter derrotado a organização no país, com a retomada de todos os territórios que o EI dominava desde 2014. O grupo, que chegou a controlar um terço do Iraque, hoje mantém apenas células adormecidas que lançam ataques esporádicos. Já as Forças Democráticas Sírias (FDS), apoiadas pelos EUA, anunciaram em 2019 o fim do “califado” criado pelos extremistas no país.
Em janeiro deste ano, o exército norte-americano anunciou ter matado Amir Muhammad Sa’id Abdal-Rahman al-Mawla, principal líder da facção, durante uma operação antiterrorismo na Síria. Foi mais um duro golpe contra o EI, que em 2019 havia perdido o líder anterior, Abu Bakr al-Baghdadi.
Assim, o principal reduto do EI tornou-se o continente africano, onde conseguem se manter relevante graças à ação de grupos afiliados regionais, como Al-Shabaab, ISWAP, EIGS e Boko Haram. A expansão em muitas regiões da África é alarmante e pode marcar a retomada de força global da organização, algo que em determinado momento tende refletir em regiões sem conflito, como Europa e Estados Unidos, alvos preferenciais de ataques terroristas.
A Al-Qaeda, por sua vez, passou a contar com um forte aliado no Afeganistão, que desde a tomada de poder pelo Taleban abriu as portas do país para os extremistas do grupo. Grupos afiliados à organização terrorista também continuam a controlar o noroeste da Síria, na área de Idlib.
No Brasil
Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.
Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.
Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.
Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.
Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.
“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.
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