O ministro e a ministra das Relações Exteriores de Lituânia e Austrália, respectivamente, firmaram na quarta-feira (9) um acordo de cooperação entre os dois governos, tendo como foco central o combate à pressão econômica imposta pela China.
O encontro entre o ministro lituano Gabrielius Landsbergis e sua colega australiana Marise Payne ocorreu no Parlamento australiano. “Austrália e Lituânia concordaram em fortalecer o relacionamento bilateral, incentivar mais comércio e investimento e promover interesses estratégicos compartilhados”, diz um comunicado divulgado pelo governo australiano.
Nos últimos meses, Austrália e Lituânia entraram na mira de Beijing, que impôs sanções econômicas oficiais e extraoficiais aos dois países, levando a perdas bilionárias. Por isso, no final de janeiro, a União Europeia (UE) entrou com uma representação contra a China na Organização Mundial do Comércio (OMC), em virtude de punições consideradas irregulares impostas a empresas e produtos lituanos.
“A Austrália tem um interesse substancial nas questões levantadas na disputa trazida pela União Europeia sobre práticas comerciais discriminatórias impostas à Lituânia e solicitou participar dessas consultas”, diz uma declaração conjunta divulgada pelos governos dos dois países.
No texto, os governos se dizem unidos por valores como “Estado de direito”, mercados abertos”, “democracia” e “direitos humanos”, temas sensíveis à China. Também falam que o acordo visa a fortalecer “um comércio mais livre, justo e baseado em regras”, o que deixa clara a insatisfação de ambos com o comportamento de Beijing.
Embora o documento não mencione a China nominalmente, o representante lituano não se furtou a citar o país asiático. “Precisamos lembrar países como a China ou qualquer outra nação que deseje usar o comércio como arma que governos com ideias semelhantes em todo o mundo têm ferramentas e regulamentos que ajudam a resistir à coerção e a não ceder a pressões políticas e econômicas”, disse Landsbergis após o encontro em Camberra, segundo a emissora WMGT.
“Há muitos colegas com quem o ministro das Relações Exteriores (Landsbergis) e eu trabalhamos e nos envolvemos nessas questões”, afirmou Payne. “Acho que estamos enviando a mensagem mais forte possível sobre nossa rejeição à coerção e nossa rejeição ao autoritarismo”.
Por que isso importa?
A relação cordial entre Austrália e China começou a deteriorar em 2018, quando Camberra proibiu a empresa chinesa Huawei de fornecer equipamentos para uma rede móvel 5G, citando riscos de interferência estrangeira. O atrito aumento em 2020, quando Camberra cobrou uma investigação independente sobre a origem do coronavírus em Wuhan, o que despertou a ira de Beijing.
A resposta chinesa veio em forma de imposição de tarifas sobre produtos australianos, como vinho e cevada, além de importações limitadas de carne bovina, carvão e uvas australianas. Os Estados Unidos definiram o movimento como “coação econômica”.
Um documento de 14 páginas vazado de forma deliberada pela Embaixada da China na Austrália em novembro de 2020 já apontava a grave deterioração nas relações entre os dois países. Nele, Beijing acusava o primeiro-ministro Scott Morrison de “envenenar as relações bilaterais”.
A carta ainda culpava Camberra pelos relatórios “hostis e antagônicos” sobre a China na mídia australiana independente e pelos ataques ao acordo do Cinturão da Rota da Seda no estado de Victoria, onde fica Melbourne.
Já as tensões entre China e Lituânia escalaram em agosto de 2021, quando Beijing convocou de volta seu embaixador em Vilnius, exigindo que o governo lituano fizesse o mesmo com seu representante em território chinês. O incidente teve relação com o fato de Taiwan, um mês antes, ter anunciado a instalação de um departamento de representação na Lituânia chamado “Escritório de Representação de Taiwan”.
Ao emitir um relatório sobre o caso, o Ministério das Relações Exteriores da China alegou que a Lituânia ignorou a “postura solene” do país e as normas básicas de relações internacionais ao dar sinal verde para que Taiwan firmasse seu escritório emVilnius. Além disso, pontuou que a medida “minou a soberania e a integridade territorial da China e interferiu grosseiramente nos assuntos internos da China”, abrindo um “mau precedente internacional”.
Isso porque Taiwan é uma questão territorial sensível para os chineses. Relações exteriores que tratem o território como uma nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio defendido de “Uma Só China“, que também encara Hong Kong como parte do território chinês. Diante da aproximação do governo taiwanês com os Estados Unidos, desde 2020 a China tem endurecido a retórica contra as reivindicações de independência da ilha.
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