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terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

EUA pagam até US$ 10 milhões por informações sobre líder do Estado Islâmico no Afeganistão

O Departamento de Estado dos EUA oferece, desde segunda-feira (7), uma recompensa de até US$ 10 milhões a quem fornecer informações que ajudem a “identificar ou capturar” Shahab al-Muhajir, também conhecido como Sanaullah Ghafari, líder do Estado Islâmico-Khorasan (EI-K), facção do grupo terrorista no Afeganistão.

O anúncio foi feito no Twitter pelo programa governamental norte-americano Rewards for Justice (Recompensas da Justiça, em tradução literal). “Sanaullah Ghafari é o atual líder da organização terrorista EI-K. Relate informações à RFJ via Signal, Telegram, WhatsApp ou nossa linha de denúncia baseada no Tor – ajude a levar esse terrorista à justiça”, diz o post.

Segundo o Departamento de Estado, Ghafari é descrito como “um líder militar e um dos ‘leões urbanos’ do EI-K em Cabul, envolvido em operações de guerrilha e no planejamento de ataques suicidas e complexos. Nascido em 1994, no Afeganistão, é responsável por aprovar todas as operações do EI-K em todo o Afeganistão e por providenciar financiamento para realizar as operações”.

Também há uma recompensa de até US$ 10 milhões para quem tiver informações sobre outros terroristas envolvidos no atentado a bomba que matou 182 pessoas na região do aeroporto de Cabul, no dia 26 de agosto de 2021, pouco após o Taleban tomar o poder no Afeganistão. A ação ocorreu durante a retirada de tropas dos EUA e da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), matando civis e militares.

EUA oferecem recompensa milionária por informações sobre Sanaullah Ghafari (Foto: reprodução)

Aliança à vista?

Principal rival do Taleban no Afeganistão, o EI-K divulgou a primeira edição de sua revista digital em inglês. Na publicação, o grupo extremista reforça suas críticas aos talibãs, tratados como “apóstatas” e “escravos do ISI”, o serviço de inteligência paquistanês.

Porém, o EI afirma que a relação ainda pode ser reparada e que os talibãs “se tornarão nossos irmãos” se “desistirem de suas ações, declararem-se livres do sistema democrático infiel, libertarem seus pescoços da escravidão dos infiéis e do ISI, se arrependerem de crenças infiéis, inovações e outras superstições”.

A revista também destaca a ação do Estado Islâmico (EI) na tentativa de tomar a prisão de Ghwayran, na cidade de al-Hasakah, na Síria. Apesar do insucesso da operação, que terminou com vitória das Forças Democráticas Sírias (FDS), o grupo extremista diz que os seguidores ainda detidos não devem perder a esperança: “Nós iremos até vocês”, diz o texto.

Por fim, a publicação dedica algumas de suas 37 páginas para criticar as mulheres por “gastarem [dinheiro] extravagantemente em coisas mundanas transitórias como roupas, joias, festas e assim por diante”, quando a obrigação era usar o dinheiro para financiar os jihadistas.

Por que isso importa?

Embora tenha ganhado notoriedade somente após o Taleban ascender ao poder, o EI-K não é novo no cenário afegão. O grupo extremista opera no país desde 2015 e surgiu na esteira da criação do Estado Islâmico (EI) do Iraque e da Síria. Foi formado originalmente por membros de grupos do Paquistão que migraram para o Afeganistão fugindo da crescente pressão das forças de segurança paquistanesas.

Agora que a ocupação estrangeira no Afeganistão terminou e que o antigo governo foi deposto pelo Taleban, os principais alvos do EI-K têm sido a população civil e os próprios talibãs, tratados como apóstatas pelo Khorasan sob a acusação de que abandonaram a jihad por uma negociação diplomática.

Os ataques suicidas são a principal marca do EI-K, que habitualmente tem uma alta taxa de mortes por atentado. O mais violento de todos eles ocorreu durante a retirada de tropas dos EUA e da Otan, quando as bombas do grupo mataram 182 pessoas na região do aeroporto de Cabul.

No início de outubro, dezenas de pessoas morreram em um ataque suicida a bomba contra uma mesquita na província de Kunduz, no nordeste do Afeganistão. Já em novembro, nova ação do EI-K, esta contra um hospital de Cabul, deixou 25 pessoas mortas e cerca de 50 feridas.

Não há diferença substancial entre EI e EI-K, somente o local de origem, a região de Khorasan, originalmente no Irã.

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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