As autoridades russas prenderam dezenas de manifestantes que foram às ruas do país nesta quinta-feira (24) protestar contra a invasão da Rússia à Ucrânia. Uma das detidas é a proeminente defensora dos direitos humanos Marina Litvinovich, de acordo com a rede Radio Free Europe.
Litvinovich afirmou, no aplicativo russo de mensagens Telegram, que foi presa quando deixava o apartamento onde mora, em Moscou. Ela postou um vídeo em sua conta no Facebook no qual convoca os cidadãos russos a irem às ruas protestar.
“Sei que muitos de vocês agora se sentem desesperados, impotentes e envergonhados com o ataque do [presidente] Vladimir Putin ao povo amigável da Ucrânia. Mas peço que não se desesperem e saiam às praças centrais de suas cidades às 19h (13h de Brasília) de hoje e digam clara e explicitamente que nós, o povo da Rússia, somos contra a guerra desencadeada por Putin”, disse Litvinovich.
O governo russo, que há tempos tem reprimido duramente qualquer tipo de protesto oposicionista, alertou a população para os riscos de ir à rua se manifestar. “O Comitê de Investigação da Rússia alerta sobre a responsabilidade por realizar ações não autorizadas e participar de eventos descoordenados”, disse o órgão em sua página oficial. “Ao responder aos apelos provocativos, deve-se estar ciente das consequências jurídicas negativas dessas ações na forma de persecução, até a responsabilidade criminal”.
Curiosamente, os protestos ocorrem quase sempre de maneira isolada, com apenas uma pessoa, algo que a legislação local permite. Isso porque, em casos de protestos coletivos, as autoridades têm punido muitos manifestantes com acusações baseadas na desobediência às normas de combate à Covid-19.
O site de monitoramento policial OVD-Info relatou quase 50 detenções em Moscou, São Petersburgo e outras cidades russas, de acordo com o site independente The Moscow Times.
Por que isso importa?
A escalada de tensão entre Rússia e Ucrânia, que culminou com a efetiva invasão russa ao país vizinho nesta quinta-feira (24), remete à anexação da Crimeia pelos russos, em 2014, e à guerra em Donbass, que começou naquele mesmo ano e se estende até hoje.
O conflito armado no leste da Ucrânia opõe o governo central às forças separatistas das autodeclaradas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, que formam a região de Donbass e foram oficialmente reconhecidas como territórios independentes por Moscou. Foi o suporte aos separatistas que Putin usou como argumento para justificar a invasão, classificada por ele como uma “operação militar especial”.
“Tomei a decisão de uma operação militar especial”, disse Putin pouco depois das 6h de Moscou (0h) de Brasília) desta quinta(24), de acordo com o site independente The Moscow Times. Cerca de 30 minutos depois, as primeira explosões foram ouvidas em Kiev, capital ucraniana, e logo em seguida em Mariupol, no leste do país, segundo a agência AFP.
O conflito, porém, tende a ser bem mais duro para Moscou que o de 2014 na Crimeia. Isso porque o Ocidente ajudou a Ucrânia a desenvolver e ampliar suas forças armadas, fornecendo armamento, tecnologia e treinamento.
“Sem pânico. Nós somos fortes. Estamos prontos para tudo. Vamos derrotar todo mundo porque somos a Ucrânia”, disse o presidente Volodymyr Zelensky pouco após o anúncio da invasão, de acordo com a rede Voice of America (VOA).
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