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quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

Relator da ONU critica China, Rússia e Sérvia por armarem o violento regime militar de Mianmar

O norte-americano Tom Andrews, ex-Congressista nos EUA e atualmente relator do escritório de direitos humanos da ONU (Organização das Nações Unidas), criticou China, Rússia e Sérvia por venderem armamento ao violento regime militar de Mianmar e pediu ao Conselho de Segurança que adote medidas para controlar tal ação.

“Deve ser incontestável que as armas usadas para matar civis não sejam mais transferidas para Mianmar. Essas transferências realmente chocam a consciência”, disse Andrews. “Parar os crimes de atrocidade da junta começa com o bloqueio de seu acesso a armas. Quanto mais o mundo adiar, mais inocentes, incluindo crianças, morrerão em Mianmar”.

Em relatório entregue às Nações Unidas, Andrews também cita Estados que autorizaram a transferência de armas desde 2018, período em que os militares são acusados de crimes contra a minoria étnica Rohingya. Atualmente, as armas vendidas pelas três nações citadas são usadas pelos militares na repressão imposta à população civil desde o golpe de Estado de fevereiro de 2021.

Soldados de Mianmar durante desfile militar em Naipidau (Foto: Wikimedia Commons)

“Apesar da evidência dos crimes de atrocidade da junta militar sendo cometidos com impunidade desde o lançamento de um golpe no ano passado, os membros do Conselho de Segurança da ONU Rússia e China continuam a fornecer à junta militar de Mianmar vários caças, veículos blindados e, no caso da Rússia, a promessa de mais armas”, afirmou Andrews. “Durante este mesmo período, a Sérvia autorizou a exportação de foguetes e artilharia para os militares de Mianmar”.

Em junho de 2021, a Assembleia Geral da ONU adotou uma resolução que pedia aos Estados-Membros a interrupção do fluxo de armas para Mianmar. Mas não funcionou. “O fracasso da resolução em ter qualquer impacto discernível sobre a crise e a capacidade da junta de lançar ataques contra civis, no entanto, levou à raiva e ao desespero”, diz o norte-americano, que cobra novas e mais duras medidas para conter o fluxo de armas para o país asiático.

Segundo Andrews, é preciso que a resolução do ano passado seja considerada obrigatória pelo Conselho de Segurança. “Apelo aos Estados-Membros do Conselho de Segurança da ONU que estão horrorizados com os assassinatos de civis de Mianmar para apresentar uma resolução para impedi-los”.

O relatório também pede uma ação coordenada dos Estados-Membros para cortar o acesso da junta à sua receita financeira, citando a população de Mianmar que age dessa forma ao boicotar determinados bens cujo faturamento é direcionado às forças armadas.

Por que isso importa?

Mianmar enfrenta “uma campanha de terror com força brutal”, segundo palavras da ONU (Organização das Nações Unidas). A repressão imposta pelo governo já causou a morte de ao menos 1,5 mil desde o golpe de 1º de fevereiro de 2021, que sucedeu as eleições presidenciais de novembro de 2020.

Na ocasião, o NLD venceu as eleições com 82% dos votos, ainda mais do que havia obtido no pleito de 2015. Em fevereiro, então, a junta militar, que já havia impedido o partido de assumir o poder antes, derrubou e prendeu a presidente eleita Aung San Suu Kyi.

O golpe deu início a protestos no país, respondidos com violência pelas forças de segurança nacionais. Cerca de 12 mil pessoas já foram presas, invariavelmente sem indiciamento ou julgamento prévio, e muitas famílias continuam à procura de parentes desaparecidos. Jornalistas e ativistas são atacados deliberadamente, e serviços de internet têm sido interrompidos.

No início de dezembro, tropas da junta militar foram acusadas de assassinar 11 pessoas em uma aldeia no noroeste do país. De acordo com uma testemunha, as vítimas, algumas delas adolescentes, teriam sido amarradas e queimadas na rua. Fotos e um vídeo chocantes que viralizaram nas redes sociais à época mostravam corpos carbonizados deitados em círculo no vilarejo de Done Taw, região de Sagaing.

A ação dos soldados seria uma retaliação a um ataque de rebeldes contra um comboio militar. Uma liderança local da oposição afirmou que os civis foram queimados vivos, evidenciando a brutalidade da repressão à população que tenta resistir ao golpe de Estado orquestrado em fevereiro deste ano.

Em meio à violenta repressão por parte do exército, alguns manifestantes fugiram para o exterior ou se juntaram a grupos armados em partes remotas do país. Conhecidos como Forças de Defesa do Povo, esses grupos estão amplamente alinhados com o governo civil deposto.

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