Em julgamento realizado na cidade de Roterdã, na Holanda, o Ministério Público (MP) local pediu seis anos de prisão para Ângela Barreto, uma luso-holandesa de 26 anos acusada de apoiar o grupo terrorista Estado Islâmico (EI). As informações são da rádio portuguesa TSF Rádio Notícias.
Durante a sessão do tribunal, o MP local acusou Ângela de fazer propaganda dos extremistas, atuando na internet com o objetivo de convencer outras pessoas a se juntarem à organização. Ela teria sido casada com três membros do grupo e atuado também em transações de armamento.
“Contribuiu para a morte de muitas vítimas que foram brutalmente assassinadas. Permaneceu no califado até o último suspiro”, disse o promotor de Justiça ao fazer a acusação, citando o fato de o “califado” do grupo na Síria ter chegado ao fim em 2019.
“Era uma verdadeira mulher do Daesh (sigla em árabe para o EI), e a organização precisava dela. Ela viajou com convicção para apoiar a luta armada na Síria“, disse o promotor.
Ângela viajou para a Síria em 2014, aos 18 anos de idade, e lá se casou com outro português que também fazia parte do grupo. Chegou a ficar detida em um campo de prisioneiros, onde viu o próprio filho morrer. Mais tarde, fugiu novamente para a Síria e depois viajou à Holanda, onde foi presa.
Hoje, afastada do EI, ela se diz arrependida. “Acho terrível o que eles fizeram. Estou envergonhada e peço desculpa a todas as vítimas“, disse a acusada perante a corte holandesa.
Conteúdo extremista online
A Europol, foça policial da União Europeia (UE), localizou na semana passada 563 conteúdos terroristas hospedados em 106 sites de países do bloco. Por ora, o conteúdo será avaliado antes de ser eventualmente excluído. Porém, uma nova norma, que passará a vigorar em breve, dará às autoridades europeias o poder de exigir a remoção de qualquer conteúdo considerado extremista.
Em novembro passado, mais de 20 sites na Alemanha e no Reino Unido foram suspensos por provedores de serviços por divulgarem propaganda terrorista online. O número corresponde a menos da metade de todos aqueles originalmente sinalizados pela polícia.
A operação de checagem de material digital realizada na semana passada contou com unidades especializadas de combate ao terrorismo de França, Alemanha, Hungria, Itália, Holanda, Portugal, Espanha, Suíça e Reino Unido.
A ação foi realizada após um homem do Reino Unido, identificado como Connor Burke, ter sido preso e condenado a 42 meses de prisão por compartilhar um manual online de fabricação de bombas.
“Burke tinha um interesse doentio pela ideologia terrorista de extrema direita, e isso o levou a compartilhar material extremamente perigoso com outras pessoas”, disse Richard Smith, chefe do Comando de Contraterrorismo da Polícia Metropolitana de Londres. “Cada vez mais, vemos jovens sendo atraídos por ideologias extremistas, alguns dos quais cometem graves crimes de terrorismo”.
Por que isso importa?
Ações antiterrorismo globais têm enfraquecido os dois principais grupos terroristas do mundo, o EI e a Al-Qaeda. Já a pandemia de Covid-19 fez cair o número de ataques em regiões sem conflito, devido a fatores como as limitações impostas às viagens internacionais e a redução do número de pessoas em áreas públicas.
Na tentativa de manter a relevância, as organizações jihadistas têm investido em zonas de conflito, como o continente africano, e isso pode causar um impacto a curto prazo na segurança global, conforme as regras de restrição à circulação são afrouxadas.
O EI, em particular, se enfraqueceu militar e financeiramente, vitimado pela má gestão de fundos por parte de seus líderes e sufocado pelas sanções econômicas internacionais. Porém, a organização ganhou sobrevida graças ao poder de recrutar seguidores online. Atualmente, as ações do EI são empreendidas quase sempre por atores solitários ou pequenos grupos que foram radicalizados e incitados através da internet.
Em 2017, o exército iraquiano anunciou ter derrotado a organização no país, com a retomada de todos os territórios que o EI dominava desde 2014. O grupo, que chegou a controlar um terço do Iraque, hoje mantém apenas células adormecidas que lançam ataques esporádicos. Já as Forças Democráticas Sírias (FDS), apoiadas pelos EUA, anunciaram em 2019 o fim do “califado” criado pelos extremistas no país.
Em janeiro deste ano, o exército norte-americano anunciou ter matado Amir Muhammad Sa’id Abdal-Rahman al-Mawla, principal líder da facção, durante uma operação antiterrorismo na Síria. Foi mais um duro golpe contra o EI, que em 2019 havia perdido o líder anterior, Abu Bakr al-Baghdadi.
Assim, o principal reduto do EI tornou-se o continente africano, onde conseguem se manter relevante graças à ação de grupos afiliados regionais, como Al-Shabaab, ISWAP, EIGS e Boko Haram. A expansão em muitas regiões da África é alarmante e pode marcar a retomada de força global da organização, algo que em determinado momento tende refletir em regiões sem conflito, como Europa e Estados Unidos, alvos preferenciais de ataques terroristas.
A Al-Qaeda, por sua vez, passou a contar com um forte aliado no Afeganistão, que desde a tomada de poder pelo Taleban abriu as portas do país para os extremistas do grupo. Grupos afiliados à organização terrorista também continuam a controlar o noroeste da Síria, na área de Idlib.
No Brasil
Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.
Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.
Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.
Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.
Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.
“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.
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