Oficiais da inteligência dos EUA acusam um site informativo financeiro de extrema-direita, o Zero Hedge, da Bulgária, de disseminar propaganda russa e também promover a desinformação entre os cidadãos ucranianos e norte-americanos. As informações são da agência Associated Press (AP).
O veículo conservador tem mais de um milhão de seguidores no Twitter e um número considerável de seguidores nos EUA. Ele é acusado de publicar conteúdo produzido pela mídia estatal russa, embora os denunciantes não tenham como afirmar que o site tinha consciência de atuar a serviço da inteligência de Moscou.
Embora tenha como foco central o mercado financeiro, o Zero Hedge tem publicado também conteúdo político, no qual contesta o governo Biden.
O site nega as denúncias. “A conclusão é a de que essas acusações que buscam audiência fácil, segundo as quais de alguma forma trabalhamos para o Kremlin, não são novidade: enfrentamos repetidamente alegações semelhantes ao longo dos anos e podemos confirmar com certeza que todas elas são ‘erros’”, disse o Zero Hedge.
O site aumentou as críticas a Washington em meio à possibilidade de uma invasão da Rússia à Ucrânia, alegando que o governo norte-americano tem espalhado o pânico entre os ucranianos. Há, inclusive, artigos publicados por pessoas afiliadas à Strategic Culture Foundation (Fundação Estratégica de Cultura, em tradução literal), sancionada em 2021 por Biden sob a acusação de participar da interferência da Rússia nas eleições de 2020 nos EUA. Líderes da entidade teriam atuado a serviço da inteligência russa.
Além do Zero Hedge, a inteligência norte-americana citou outros dois sites, Odna Rodyna e Fondsk, que seriam dirigidos pela Strategic Culture Foundation, além de outros três a serviço da FSB (Agência de Segurança Federal, da sigla em inglês) da Rússia. O conteúdo publicado por eles seria especialmente danoso à imagem da Ucrânia, mas também conteria desinformação referente à pandemia de Covid-19.
“Esses sites permitem que o governo russo garanta apoio entre as populações russa e ucraniana”, disse um funcionário do governo norte-americano que não quis se identificar. “Este é o principal vetor de como o governo russo reforçará o apoio doméstico para uma invasão na Ucrânia”.
Por que isso importa?
Nos últimos meses, a mídia estatal russa entrou na mira das nações ocidentais. Dois estudos publicados nos últimos dias atrelam a emissora RT, antes conhecida como Russia Today, bem como a agência estatal de notícias Sputnik, à inteligência da Rússia, liderando uma campanha de desinformação focada em fortalecer a imagem do Kremlin e desestabilizar governos alinhados com Washington.
Relatório publicado no dia 20 de janeiro pelo Departamento de Estado dos EUA destaca a atuação dos veículos de mídia a serviço da inteligência russa. Na avaliação do governo norte-americano, as empresas se apresentam como independentes, mas essa independência é apenas fachada. Elas atuam na verdade a serviço do governo Putin, usando o “disfarce de meios de comunicação internacionais convencionais”.
Análise semelhante foi feita pelo Robert Lansing Institute (RLI), uma ONG dos Estados Unidos que classifica a RT como “instrumento de propaganda e desinformação russa”. E cita, entre os temas focados pela emissora, o da pandemia de Covid-19, particularmente na França.
Como exemplo do poder que o Kremlin exerce sobre os meios de comunicação estatais, a ONG cita a editora-chefe de ambos, Margarita Simonyan, descrita como “afiliada ao Ministério da Defesa russo e à inteligência militar russa”.
Diz o documento: “Simonyan iniciou sua carreira como correspondente de guerra durante a guerra da Chechênia, o que indiretamente confirma seus laços com o GRU (Departamento Central de Inteligência da Rússia). Em 2005, ela ainda recebeu uma medalha do Ministério da Defesa”.
A conclusão do RLI é a de que RT e Sputnik não “são mídia real, pois não têm nada a ver com jornalismo em seu sentido normal”. O objetivo da imprensa estatal russa é um só: “Minar a ordem liberal e democrática ocidental”, diz a ONG em sua análise.
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