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sábado, 26 de fevereiro de 2022

Cenários que se apresentam para encerrar a guerra sugerem desfecho ruim para o Ocidente

Enquanto a Ucrânia tenta se defender militarmente da agressão russa, as nações ocidentais, embora tenham manifestado forte oposição à guerra, mantêm uma distância segura do conflito. As prometidas sanções econômicas, algumas delas ainda não efetivadas, parecem não incomodar o presidente russo Vladimir Putin. Assim, os cenários que se apresentam sugerem um desfecho favorável à Rússia e ruim para o Ocidente. Em particular para os Estados Unidos, o que poderia mudar o equilíbrio geopolítico global.

Em conversa com A Referência, André Luís Woloszyn, analista de assuntos estratégicos e especialista em conflitos de baixa e média intensidade, afirmou que Washington tem muito a perder com os cenários que hoje se apresentam. “Talvez estejamos presenciando no futuro um deslocamento do poder de influência política internacional, que antes era exclusivamente norte-americano, para russos e chineses”, disse ele.

Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia (Foto: Wikimedia Commons)

As defesas ucranianas estão cada vez mais fragilizadas, e atualmente duas possibilidades surgem no horizonte para encerrar o conflito. Uma delas, a queda definitiva de Kiev e do presidente Volodymyr Zelensky, com a imposição de um novo líder pró-Moscou na Ucrânia e o aumento da rede de influência russa em seu entorno. Outra, a solução diplomática, algo que Ucrânia e Russia dizem estar dispostas a negociar, mas que pode ser muito difícil de alcançar.

Mykhailo Podolyak, conselheiro presidencial ucraniano, sugeriu nesta sexta (25), em entrevista à agência Reuters, um meio termo diplomático: a Ucrânia, que vinha tentando ingressar na Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), adotaria status neutro em relação à aliança. “Se as negociações são possíveis, elas devem ser realizadas. Se em Moscou eles dizem que querem manter conversas, inclusive sobre o status neutro, não temos medo disso”, disse ele.

Porém, a única oferta que Putin diz aceitar precisaria incluir a derrubada de Zelensky e o desarmamento ucraniano. Assim, a diferença entre o que Moscou exige e o que Kiev está disposta a oferecer gera um impasse idêntico àquele que não permitiu evitar a guerra. E há, ainda, a relação turbulenta entre as duas nações. “A mediação entre russos e ucranianos se torna difícil pelo histórico de conflitos entre os países desde a era soviética, o que resultou em muitos ressentimentos de ambas as partes”, disse Woloszyn.

“Estamos sozinhos”

Isolado e forçado a encarar uma derrota que parece inevitável, Zelensky não escondeu a decepção por não ter recebido apoio militar do Ocidente. “Quem está pronto para lutar ao nosso lado? Não vejo ninguém. Quem está disposto a dar à Ucrânia uma garantia de adesão à Otan? Todo mundo tem medo”, disse ele em pronunciamento à nação, segundo a agência catari Al Jazeera.

“Estamos defendendo nosso país sozinhos. As forças mais poderosas do mundo estão observando isso à distância”, afirmou Zelensky, deixando claro que as medidas adotadas pelas nações ocidentais não foram suficientes. “As sanções de ontem impressionaram a Rússia? Ouvimos no céu acima de nós e em nossa terra que não é suficiente”.

Por que isso importa?

A escalada de tensão entre Rússia e Ucrânia, que culminou com a efetiva invasão russa ao país vizinho na quinta-feira (24), remete à anexação da Crimeia pelos russos, em 2014, e à guerra em Donbass, que começou naquele mesmo ano e se estende até hoje.

O conflito armado no leste da Ucrânia opõe o governo central às forças separatistas das autodeclaradas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, que formam a região de Donbass e foram oficialmente reconhecidas como territórios independentes por Moscou. Foi o suporte aos separatistas que Putin usou como argumento para justificar a invasão, classificada por ele como uma “operação militar especial”.

“Tomei a decisão de uma operação militar especial”, disse Putin pouco depois das 6h de Moscou (0h de Brasília) de quinta (24), de acordo com o site independente The Moscow Times. Cerca de 30 minutos depois, as primeira explosões foram ouvidas em Kiev, capital ucraniana, e logo em seguida em Mariupol, no leste do país, segundo a agência AFP.

Para Woloszyn, a movimentação no campo de batalha sugere um conflito curto. “Não há interesse em manter uma guerra prolongada”, disse o especialista, baseando seu argumento na estratégia adotada por Moscou. “Creio que a Rússia optou por uma espécie de blitzkrieg, com ataques direcionados às estruturas militares“, afirmou, referindo-se à tática de guerra relâmpago dos alemães na Segunda Guerra Mundial.

O que também tende a contribuir para um conflito de duração reduzida é a decisão da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) de não interferir militarmente. “Não creio em envolvimento de outras potências no conflito, o que poderia desencadear uma guerra mais ampla e com consequências imprevisíveis”, disse Woloszyn, que é diplomado pela Escola Superior de Guerra.

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