Abu Ibrahim al-Hashimi al-Qurashi, líder do Estado Islâmico (EI) morto durante operação militar das forças especiais do exército dos EUA, quinta-feira (3), na Síria, morreu ao detonar uma bomba que carregava com ele. A explosão também vitimou membros da família do terrorista, segundo informações do governo norte-americano.
Pouco após o anúncio da morte de al-Qurashi, a ONG Observatório Sírio para os Direitos Humanos havia anunciado a morte de 13 civis durante a operação, entre eles três mulheres e quatro crianças.
De acordo com John F. Kirby, porta-voz-chefe do Pentágono, nenhuma dessas vítimas está associada à ação dos militares. “Na medida em que há perda de vidas inocentes, isso é causado por Abdullah e seus tenentes”, disse, citando um dos muitos pseudônimos do terrorista, de acordo com o jornal The New York Times.
Um funcionário de Washington que não quis se identificar reforçou a informação à agência Reuters: “No início da operação, o alvo terrorista explodiu uma bomba que o matou e a membros de sua própria família, incluindo mulheres e crianças”.
De acordo com o presidente Joe Biden, que emitiu comunicado logo após a operação, a fim de reduzir os ricos para a população civil, as forças especiais optaram por uma operação em terra em vez de efetuar um bombardeio aéreo.
“Sabendo que esse terrorista havia escolhido se cercar de familiares, incluindo crianças, optamos por perseguir um ataque das forças especiais, com um risco muito maior do que o nosso – para nosso próprio povo, em vez de atingi-lo com um ataque aéreo. Fizemos essa escolha para minimizar as baixas civis“, diz o texto publicado pela Casa Branca.
Fogo pesado
A operação militar mobilizou mais de 20 soldados das forças especiais, transportados por helicópteros e apoiados por drones e jatos. Foi uma ação semelhante àquela que terminou com a morte de Abu Bakr al-Baghdadi, líder anterior do EI, que em 2019 também morreu ao detonar um colete suicida ao ser acuado por tropas dos EUA.
Os helicópteros transportaram os militares durante a madrugada, tendo como alvo uma casa em Atmeh, cidade perto da fronteira com a Turquia, na província síria de Idlib. Antes do ataque, os militares emitiram avisos através de autofalantes para que todos os ocupantes do imóvel se rendessem. A isso se sucedeu uma grande explosão, e na sequência o fogo pesado do armamento de ambos os lados.
Durante a operação, um dos helicópteros do exército norte-americano sofreu um problema mecânico, foi forçado a pousar e, posteriormente, acabou destruído pelos jatos dos EUA. Após cerca de três horas de combate pesado, as tropas se retiraram usando os demais helicópteros.
Por que isso importa?
Nos últimos anos, o EI se enfraqueceu financeira e militarmente. Em 2017, o exército iraquiano anunciou ter derrotado a organização no país, com a retomada de todos os territórios que ela dominava desde 2014. O grupo, que chegou a controlar um terço do Iraque, hoje mantém apenas células adormecidas que lançam ataques esporádicos, quase sempre focados em agentes do governo. Já as FDS, uma milícia curda apoiadas pelos EUA, anunciaram em 2019 o fim do “califado” criado pela organização extremista na Síria.
De acordo com um relatório do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas), publicado em julho de 2021, a prioridade do EI atualmente é “o reagrupamento e a tentativa de ressurgir” em seus dois principais domínios, Iraque e Síria, onde ainda mantém cerca de 10 mil combatentes ativos. O documento sugere, ainda, que o grupo teve considerável perda financeira, devido a dois fatores: as operações antiterrorismo no mundo e a má gestão de fundos por parte de seus líderes.
Paralelamente à derrocada do EI, a pandemia de Covid-19 reduziu o número de ataques terroristas em regiões sem conflito, devido a fatores como a redução do número de pessoas em áreas públicas. Entretanto, grupos jihadistas têm se fortalecido em zonas de conflito, e isso pode causar um impacto na segurança global conforme as regras de restrição à circulação são afrouxadas.
Esse cenário permitiu ao EI, particularmente, ganhar uma sobrevida, fazendo uso sobretudo do poder da internet. À medida em que as restrições relacionadas à pandemia diminuem gradualmente, há uma elevada ameaça de curto prazo de ataques inspirados no grupo fora das zonas de conflito. São ações empreendidas por atores solitários ou pequenos grupos que foram radicalizados e incitados através da internet.
Atualmente, o principal reduto do EI é o continente africano, onde consegue se manter relevante graças ao recrutamento online e à ação de grupos afiliados regionais. A expansão do grupo em muitas regiões da África desde o início de 2021 é alarmante e pode marcar a retomada de força da organização.
No Brasil
Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.
Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.
Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.
Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.
Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.
“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.
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