Um relatório lançado no dia 6 pela revista “Technology Review”, ligada ao MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), aponta que o governo da China se utiliza de um hack nos iPhones para perseguir e espionar a minoria uigur na província de Xinjiang.
A falha teria sido descoberta em 2018, na Copa Tianfu – competição oficial da China que oferece até um milhão de dólares aos programadores que conseguirem identificar problemas em sistemas operacionais. Esse tipo de evento. chamado de “hackathon”, é comum no setor.
O pesquisador Qixun Zhao encontrou uma fraqueza nos dispositivos da Apple que lhe permitia invadir e assumir o controle de qualquer iPhone que visitasse a página da web com um malware. O problema foi reportado à Apple, que o corrigiu já em janeiro de 2019.
Em agosto daquele ano, porém, o Google lançou um alerta sobre uma campanha de hacking em massa sobre iPhones na China – um rito semelhante usado por Qixun no campeonato. O relatório omitia as vítimas: a população muçulmana uigur de Xinjiang. A província fica no oeste chinês.
Com raízes étnicas e culturais na Ásia Central, a comunidade uigur reúne uma população de 11 milhões de habitantes e é vista pela maioria han – 92% dos chineses – com desconfiança. Os uigures enfrentam discriminação da sociedade e do governo chinês.
Estimativas apontam que um em cada 20 uigures ou cidadãos de minoria étnica já passou por campos de detenção de forma arbitrária desde 2014. Há relatos de tortura, trabalho forçado e esterilização compulsória na população. Beijing classifica os locais como “espaço de reeducação” e afirma que visa combater o terrorismo e extremismo.
Valor estratégico
A vigilância dos EUA também detectou a exploração do sistema contra uigures e informou a Apple, em setembro de 2019. Assim como o Google, a empresa se recusou a comentar o caso.
A inteligência norte-americana concluiu que os chineses seguiram o plano de “valor estratégico” atribuído à Copa Tianfu. Como o hack era importante, ele foi imediatamente entregue à inteligência chinesa, que passou a espionar os uigures. Qixum relata não ter relação com o que foi feito com o hack após a competição.
A Copa Tianfu tem o patrocínio das maiores empresas de tecnologia da China – Alibaba, Baidu e Qihoo 360. A última, estimada em US$ 9 bilhões, está na lista de exclusão do comércio dos EUA por uma suposta relação com atividades militares chinesas.
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