Fiame Naomi Mata’afa, eleita primeira-ministra de Samoa em abril, falou em “golpe de Estado” ao ser impedida de entrar no Parlamento do país para tomar posse nesta segunda (24).
“Esta é uma tomada de controle ilegal do governo”, disse ao jornal neozelandês Newshub. Conforme a Associated Press, Mata’afa e seus apoiadores realizaram a cerimônia mais tarde em uma tenda instalada em frente ao Parlamento trancado – ação que seus oponentes também classificaram como “ilegal”.
O embate vem na esteira da crescente crise de Samoa. Em abril, a elite política da nação insular do Pacífico, chefiada pelo então primeiro-ministro Tuilaepa Sailele Malielegaoi – há 22 anos no poder –, anunciou vitória no pleito, apesar de os tribunais confirmarem o triunfo de Mata’afa.
A decisão de fechar o Parlamento foi do chefe de Estado Tuimalealiifano Vaaletoa Sualauvi II. Sem dar explicações, ele anunciou no sábado (22) que “não poderia permitir” que os parlamentares se reunissem. “Revelarei os motivos no devido tempo”, disse, em registro do “Jakarta Post”.
Depois do bloqueio, Malielegaoi anunciou que seu governo continuaria no comando. A resistência em acatar a decisão das urnas engloba razões que vão desde a rara presença feminina na política até a manutenção das relações com a China.
Malielegaoi tem apoiado Beijing nas últimas duas décadas, enquanto Mata’afa já deixou claro que pretende reformular as relações com o gigante asiático. Em entrevista à Reuters, ela anunciou que engavetaria o projeto de construir um porto de US$ 100 milhões financiado por bancos chineses, alegando que o gasto é “excessivo” para um país já afundado em dívidas com a China.
Por trás da crise
Mata’afa era vice-primeira-ministra de Tuilaepa antes de deixar o governo e criar o partido Fast (Fa’atuatua i le Atua Samoa ua Tasi, Fé no Único Deus de Samoa, em tradução livre), estabelecido apenas seis meses antes das eleições.
Ao defender uma reforma judicial e as boas relações tanto com Beijing quanto com Washington, a líder do Fast angariou o apoio de samoanos no exterior e enfrentou o governista HRPP. A sigla detinha, até então, 46 dos 50 assentos do Parlamento.
Foram os migrantes samoanos baseados na Austrália que financiaram grande parte da campanha de Mata’afa, uma cristã conservadora que apoia os direitos das mulheres. Ainda que a população da ilha seja de apenas 200 mil habitantes, estima-se que 500 mil descendentes vivam no exterior.
O descontentamento derivou de três emendas constitucionais aprovadas no final de 2020. As leis permitiram a intervenção política no Tribunal de Contas, o que diminui a possibilidade de prestação de contas por parte dos governantes.
Samoa tornou-se independente da Nova Zelândia em 1962. O HRPP está no poder desde 1982, exceto por um breve período entre 1986 e 1987.
O post Crise em Samoa: governistas rejeitam derrota e impedem nova premiê de assumir cargo apareceu primeiro em A Referência.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe aqui seu comentário, evite comentários depreciativos e ofensivos