Uma misteriosa base aérea está construção na ilha vulcânica de Mayun, no Iêmen. Imagens de satélite obtidas pela Associated Press mostram caminhões e tratores trabalhando nas obras de uma pista de pousos e decolagens com 1,85 quilômetro.
Uma última análise, na terça (18), mostrou o trabalho aparentemente concluído e a nova construção de três hangares ao sul da ilha. Apesar de estar em um dos principais enclaves para embarques de energia e carga comercial do mundo, nenhum país manifestou-se oficialmente como responsável pela obra.
A principal suspeita é que a estrutura seja dos Emirados Árabes Unidos. Em 2016, o o país começou a construir uma pista de decolagem. O projeto, porém, emperrou de vez em 2019, quando Abu Dhabi anunciou a retirada de suas tropas da ofensiva saudita contra os rebeldes houthis.
Em 2016, o emirado buscava construir uma pista de mais de 3 quilômetros – estrutura que permitia bombardeios mais pesados. Com 1,8 quilômetro, o local tem capacidade de acomodar aeronaves de ataque, vigilância e transporte.
A primeira interrupção foi em 2017, quando engenheiros sinalizaram para a dificuldade em cavar devido as características geológicas da ilha vulcânica. Sua importante localização estratégica, porém, pode ter forçado uma atenção especial ao terreno.
A pista na ilha Mayun permitiria uma projeção de força no estreito de Bab el-Mandeb. Do local, ataques aéreos são capazes de atingir o Iêmen com precisão. A ilha ainda fornece uma base para qualquer operação no Mar Vermelho e Golfo de Aden.
Uma autoridade do governo reconhecido internacionalmente do Iêmen afirmou, sob condição de anonimato, que Abu Dhabi está por trás da construção. Segundo ela, navios do país já transportaram armas, equipamentos e tropas militares para Mayun nas últimas semanas.
O que está por trás de Mayun
O avanço dos houthis no Iêmen, a chance ampliada do governo local ser derrotado e a recente tensão entre o presidente iemenita, Abed Rabbo Mansour Hadi, e os Emirados Árabes Unidos, pode ter forçado o retorno dos emiratis à obra. Abu Dhabi determinou que Sanaa assinasse um contrato de arrendamento de 20 anos para Mayun.
A estrutura teria sido reiniciada por volta de 22 de fevereiro – dias depois do presidente Joe Biden anunciar que encerraria o apoio dos EUA à ofensiva liderada pela Arábia Saudita contra os houthis.
Além disso, o reinício ocorre após Abu Dhabi desmontar partes de uma base militada administrada na Eritreia – palco de sua campanha no Iêmen. A base também poderia interessar às forças norte-americanas, que operaram na base aérea de Al-Anad, do Iêmen, contra a Al-Qaeda até 2015. O Pentágono não respondeu aos pedidos de comentário.
Enquanto as potências vizinhas se voltam ao interesse militar do Iêmen, a população do país devastado pela guerra vive a pior crise humanitária do mundo. Em 2020, a guerra teve o pior avanço desde seu início, em 2014, alertou a ONU (Organização das Nações Unidas).
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