O aumento inesperado de infecções fatais por fungos na Índia tem a ver com a prescrição excessiva de esteroides em pacientes com Covid-19. O alerta é de um grupo de especialistas otorrinolaringologistas à “Financial Times”.
Conforme os médicos, o aumento das mortes por fungos de cor preta – ou mucormicoses – é uma consequência do uso desenfreado de esteroides e a escassez de medicamentos para tratá-los. A infecção começa no nariz e se espalha rapidamente para os olhos e cérebro. Rara, sua taxa de mortalidade é de 50%.
Apesar de não terem efetividade comprovada contra a Covid-19, os esteroides estão sendo usados por médicos que desrespeitam as diretrizes de prescrição e por pacientes que se automedicam.
O uso pode desencadear infecções secundárias, como os fungos, e aumentar a resistência a antibióticos no país. “É devastador”, relatou o médico Atul Mittal, do hospital e instituto de pesquisa Fortis Memorial. “Você geralmente vê de quatro a cinco casos na vida, agora estamos vendo de quatro a cinco casos por dia”.
Infectados por mucormicose precisam de cirurgia para raspar o tecido corroído pelo fungo. Em muitos casos, os pacientes perdem os olhos e a mandíbula. Se o fungo se espalha, a pessoa morre em poucos dias.
Na Índia, médicos começaram a defender o uso de esteroides para evitar a “tempestade de citocinas”, uma resposta inflamatória excessiva causada pela Covid-19. Esses medicamentos, porém, reduzem a imunidade e aumentam os níveis de açúcar no sangue – uma mistura fértil para o desenvolvimento do fungo.
Apesar de raros, os casos de mucormicose afetam com maior incidência pessoas com diabetes ou com o sistema imunológico enfraquecido. A Índia é o país com o maior número de diabéticos no mundo depois da China.
Covid-19 na Índia
O uso indiscriminado de esteroides é uma consequência do surto de Covid-19 na Índia e as dificuldades do governo em responder aos casos. Nesta quarta (19), o país asiático superou o recorde de maior número de mortes registradas em um dia pelo vírus: foram 4.529 óbitos em 24 horas, conforme dados oficiais.
O último recorde havia sido dos EUA, que chegou a 4.475 mortes no dia 12 de janeiro. Com 25,8 milhões de infectados, Nova Délhi registrou 287 mil mortes – ainda que sob fortes evidências de subnotificação.
No dia 8, a revista médica “The Lancet” previu que a Índia deve alcançar um milhão de mortes até agosto devido à velocidade de transmissão no segundo país mais populoso do mundo, com 1,3 bilhão de habitantes.
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