O governo de Montenegro tem uma conta gigantesca a pagar. São US$ 944 milhões (quase R$ 5 bilhões) em empréstimos feitos pela China para construir uma estrada que, ao menos até agora, não leva a lugar algum.
Já são seis anos de obras no primeiro trecho, que liga o vilarejo de Matesevo a uma cidade próxima à capital Pogdorica. A inauguração deve ocorrer no próximo mês de novembro.
Mas ainda falta um segundo trecho, que não custará menos de US$ 1,2 bilhão. “A obra é impressionante, mas não pode terminar aí”, diz um morador local ouvido pela AFP. “É como comprar um carro muito caro e deixá-lo estacionado na garagem”.
De Montenegro à Sérvia
Se a obra for concluída, a ideia é chegar ao Porto de Bar, no Mar Adriático, perto da fronteira com a Sérvia. Depois, ainda caberá aos sérvios estender a rodovia até Belgrado.
O problema maior, porém, não é concluir a obra. É pagar a conta. “Se não encontramos fontes de renda para finalizar a obra, teremos um grande problema”, admitiu o ministro da infraestrutura de Montenegro, Mladen Bojanic. A primeira parcela do empréstimo vence em julho.
Armadilha chinesa
Entre aqueles que criticam o projeto, é comum a acusação de que a China usa obras desse porte como trunfo político. Afinal, se os montenegrinos não conseguirem pagar a conta, a solução virá através de arbitragem, com sede em Beijing. E um resultado desfavorável pode forçar Montenegro a ceder aos credores o controle de infraestrutura estratégica.
Os chineses negam qualquer prejuízo dos europeus. “É uma cooperação, um projeto que gera vantagens mútuas”, disse um comunicado da embaixada da China em Montenegro. “Se alguém rotula negativamente o investimento da China, não é injusto apenas com os chineses. É injusto também com os países bálticos”.
Corrupção governamental
Paralelamente, surgem acusações de corrupção no financiamento da obra. Não houve licitação para selecionar as empresas envolvidas no projeto, e um terço das escolhidas tinha relação com o ex-presidente Milo Djukanovic.
Entre os moradores das proximidades da estrada, porém, há um lado positivo. “Muitos conseguiram vender suas terras e ir embora, o que era impossível antes”, disse um homem que preferiu não se identificar. “E eu ainda consegui vender alguns legumes e frangos aos trabalhadores”.
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