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sexta-feira, 28 de maio de 2021

Representante da Phillip Morris é suspeito de financiar terrorismo em Burkina Faso

Apollinaire Compaoré é uma das pessoas mais ricas de Burkina Faso. Amigo de presidentes e eleito um dos homens mais influentes da África, ele fez fortuna com o comércio de tabaco, representando a gigante Phillip Morris. A ONU (Organização das Nações Unidas), porém, o classifica como contrabandista. E dois relatórios do grupo europeu OCCRP (Projeto de Combate ao Crime Organizado e à Corrupção, em tradução livre) sugerem que ele é cúmplice de terrorismo e de outros crimes no continente.

Os cigarros vendidos por Compaoré ajudam a financiar sobretudo a compra de armas e o terrorismo, alimentando um conflito que mata centenas de milhares de pessoas todos os anos. Conforme relato da OCCRP, os cigarros da Phillip Morris são repassados a contrabandistas, que por sua vez pagam jihadistas para proteger seus comboios.

A operação comandada por Compaoré estabeleceu suas principais rotas através do Níger e do Mali. A operação engloba um total de seis países africanos, desde a Costa do Marfim até a Líbia. Essas rotas, usadas para transportar os cigarros, servem também a grandes traficantes de cocaína e de pessoas.

Representante da Phillip Morris é suspeito de financiar terrorismo em Burkina Faso
Apollinaire Compaoré (esq.) e Lassiné Diawara, líder da Câmara de Indústria e Comércio de Burkina Faso (Foto: Twitter/Reprodução)

“Ele é um grande trapaceiro. Um homem mau, sem piedade”, disse Ali Babati Saied, seu antigo parceiro comercial, em entrevista à VOA (Voice Of America) na África.

Em um dos relatórios, o OCCRP acusa as autoridades de Burkina Faso e a gigante do tabaco de serem cúmplices da vasta operação de contrabando. Tanto que Compaoré segue como representante da empresa, mesmo em meio a inúmeras acusações de contrabandear o produto.

“Tudo indica que a Phillip Morris estava ciente do que estava fazendo”, disse a jornalista da organização Aisha Kehoe Down à emissora VOA (Voice of America). Segundo ela, há evidências de que a alfândega, os criminosos e membros do governo da região de Burkinabe operavam juntos, como uma “máfia de Estado”.

Relatórios apontam que distribuidor de tabaco financiou terrorismo em Burkina Faso
Rua da capital de Burkina Faso, Ouagadougou, durante visita do ex-secretário geral da ONU, Ban Ki-moon, ao país em março de 2016 (Foto: UN Photo/Evan Schneider)

Em 2019, um relatório da ONU (Organização das Nações Unidas) já havia estabelecido relações entre a companhia de tabaco e contrabandistas regionais. “[A empresa] fornece conscientemente àqueles que fazem o tráfico”, disse Ruben de Koning, especialista em finanças das Nações Unidas.

Um dos países mais pobres do mundo, Burkina Faso luta contra uma insurgência de grupos ligados à Al-Qaeda e ao Estado Islâmico desde que extremistas armados dominaram partes do vizinho Mali, em 2015.

Resposta

Em entrevista à VOA, o representante da Philips Morris em Burkina Faso Apollinaire Compaoré negou as acusações e classificou o relatório da ONU como “mentiroso”. Um dos homens mais ricos de Burkina Faso, Compaoré também rejeitou a afirmação do OCCRP de que duas de suas empresas nunca pagaram impostos.

“Eles são os diretores dos impostos?”, questionou. “Estão mentindo para me prejudicar”. Segundo ele, a administração tributária do país africano é muito rigorosa e não deixa passar “casos de impunidade”.

Em nota, a Philip Morris afirmou que não há evidências de irregularidades por parte da empresa ou contrabando dos produtos para países vizinhos. O departamento da alfândega de Burkina Faso não respondeu aos pedidos de comentário.

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